mai 11, 2022 - Reading time 5-7 minutes
Sem dúvida, tecnologias emergentes oferecem inúmeras possibilidades para tornar a saúde mais acessível. Acelerada pela pandemia, a mudança do local de atendimento do hospital para a residência está deixando os cuidados de saúde amplamente mais disponíveis. O atendimento especializado, anteriormente disponível apenas em hospitais metropolitanos, agora pode ser acessado mais perto de onde as pessoas vivem, por meio de uma combinação de suporte virtual e tecnologias especializadas – como ECG, ultrassom e diagnóstico por imagem avançado – que permitem diagnósticos e tratamentos mais precoces para condições como doenças cardíacas. Tecnologias de tele-ultrassom, como a Collaboration Live, trazem o conhecimento especializado para mais perto dos pacientes, dando aos profissionais de saúde acesso ampliado a orientações seguras e em tempo real, além de suporte a decisões em muitas áreas, incluindo a ecocardiografia.
Em muitas partes do mundo, as unidades de atenção básica e clínicas locais podem funcionar como centros de diagnóstico e hospitais remotos, graças às tecnologias de cuidados virtuais. Especialmente para pessoas em áreas distantes ou rurais, opções como Centros de Diagnóstico Local (Reino Unido), Estações de Cuidados Virtuais (EUA) e estruturas de contêiners equipadas com tecnologia (Brasil) oferecem novas meios de acesso ao diagnóstico e tratamento de doenças cardíacas. No futuro, as inovações emergentes em saúde poderão levar cuidados de saúde móveis de ponta para onde quer que as pessoas estejam.
Infelizmente, a transformação digital da saúde por si só não garantirá resultados equitativos para a saúde. Novas tecnologias com o poder de ampliar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento de doenças em certas situações também têm o potencial de ampliar lacunas de acesso, acessibilidade e equitabilidade [4]. Isso é especialmente verdade em lugares onde a infraestrutura digital é inadequada ou onde as soluções não são acessíveis ou culturalmente relevantes.
Para atender às demandas de saúde de forma equitativa e sustentável, as pessoas que participam do desenvolvimento de novas tecnologias precisam compreender perfeitamente as necessidades existentes no mundo real e como uma solução será usada na prática. Ouvir vozes diversas de clientes e pacientes, equilibrar os interesses das partes envolvidas e trabalhar de forma colaborativa com parceiros e comunidades locais pode gerar melhores resultados e ajudar a evitar equipamentos abandonados e soluções digitais inacessíveis ou ineficazes [5].
Essa abordagem centrada nas pessoas exige uma "empatia radical" e perseverança, enfrentando vieses possivelmente desconfortáveis e entendendo a gama de fatores que contribuem para as disparidades na saúde. Em seguida, combina esses insights contextuais com o pensamento criativo para inovar com soluções mais equitativas, responsáveis e socialmente viáveis.
Enxergar as oportunidades muitas vezes requer uma mudança de perspectiva. Embora a maioria dos determinantes sociais da saúde – como a localização geográfica ou o status socioeconômico de uma pessoa – estejam fora do controle de uma empresa de tecnologia em saúde, o processo de design tem maneiras para reconhecer e enfrentar desafios sociais complexos. Uma empresa de tecnologia de saúde pode não ser capaz, por exemplo, de resolver sozinha os desafios da infraestrutura de transporte de uma região, mas pode projetar soluções cardiovasculares que melhor permitam o acesso aos cuidados por pessoas que não podem chegar facilmente a um hospital.
As empresas de tecnologia em saúde também podem atuar como catalisadoras, reunindo diversas partes interessadas para colaborar e dar vida a soluções pioneiras. Motivada pelo problema real de pessoas em comunidades carentes que morrem desnecessariamente de doenças cardiovasculares, uma pequena, porém dedicada equipe da Philips juntou-se a um grupo de voluntários para reunir insights e gerar ideias, com o propósito compartilhado de levar cuidados cardíacos críticos a comunidades carentes da África.
Reconhecendo que as pessoas que sofrem de doenças cardíacas muitas vezes não percebem isso até que seja tarde demais – um motivo para as taxas de mortalidade tão altas –, a equipe identificou o diagnóstico precoce como uma peça essencial do quebra-cabeça. Mas o acesso a um diagnóstico precoce e acessível em clínicas de atenção básica raramente está disponível em comunidades carentes, o que significa que as pessoas esperam até sofrerem sintomas e vão direto para unidades de saúde terciárias.
No entanto, a combinação de um dispositivo tele-ECG móvel com o ultrassom Philips Lumify oferece aos prestadores de atenção básica a capacidade de triagem cardiovascular e diagnóstico integrado que pode ajudar a resolver o problema. Além da detecção precoce no nível da atenção básica, este modelo inovador de cuidados baseados em telessaúde também pode ajudar a proporcionar uma triagem mais eficaz, remotamente e a um baixo custo. Quando os pacientes são identificados como de alto risco, o encaminhamento tele-cardíaco pode ser usado para ajudá-los a obter os cuidados certos, incluindo procedimentos laboratoriais de cateterismo que salvam vidas. Além disso, a oferta de opções de pagamento baseadas na utilização permite que prestadores menores, como clínicas, adquiram a tecnologia com mais facilidade.
O que começou como um projeto interno de pesquisa da Philips se transformou em uma colaboração que inclui a Philips Foundation, um parceiro externo de tecnologia em saúde, e partes interessadas em comunidades carentes de atendimento médico. Embora ainda nas fases iniciais, essa iniciativa escalável incorpora o tipo de resultado de cuidado equitativo que pode vir de um processo de inovação centrado nas pessoas.
Na Índia, outra colaboração entre várias partes interessadas em lidar com o impacto crescente de doenças cardiovasculares resultou na instalação de 1.000 laboratórios de cateterismo de última geração nos principais locais de todo o país. Esses laboratórios não só ajudam a expandir a capacidade da Índia de tratar uma série de doenças cardiovasculares com procedimentos de terapia minimamente invasivos guiados por imagens, mas também estabelecem as bases para expansões adicionais de laboratórios de cateterismo, a fim de ajudar a alcançar os locais mais remotos do país.
Da mesma forma, laboratórios instalados em consultórios e centros de cirurgia ambulatorial nos Estados Unidos oferecem acesso mais perto de casa para tratar condições como doença arterial coronariana, com procedimentos minimamente invasivos que podem salvar vidas.
Mas a tecnologia nem sempre é a resposta. Às vezes, a solução mais viável é uma solução tecnicamente menos complexa. O kit de treinamento em RCPD é um ótimo exemplo disso. A Ressuscitação Cardiopulmonar e Desfibrilação (RCP/RCPD) é uma resposta extremamente impactante à parada cardíaca súbita, mas em países de baixa e média renda, onde o ataque cardíaco é uma das principais causas de morte, essas habilidades que salvam vidas não são tão difundidas quanto poderiam ser.
Encarando este desafio, a equipe de Design de Experiência da Philips, em parceria com a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC, na sigla em inglês), o Centro Global de Referência em Primeiros Socorros (GFARC, na sigla em inglês) e a Philips Foundation, co-criou um treinamento acessível e rico em imagens, que pode ser usado para ensinar habilidades de RCP/RCPD que salvam vidas. O kit de treinamento, adaptável a diferentes regiões e disponível em oito idiomas, está sendo usado em diversas partes do mundo, incluindo regiões carentes de atendimento na África.
Projetado com elementos visuais de fácil compreensão, o treinamento RCPD não requer conhecimentos pré-existentes em saúde, nem um nível de escolaridade específico. Embora possa parecer surpreendentemente não técnica, essa inovação centrada nas pessoas não só representa o que é possível, mas também o que é preferível [6].
Projetar tecnologias de saúde que aumentem o acesso aos cuidados e apoiem metas maiores de equidade em saúde – como fortalecer sistemas globais de saúde e atingir a cobertura universal de saúde até 2030 – exije que sejamos deliberadamente inclusivos durante todo o processo de inovação, com designs voltados para um objetivo comum, e co-criando soluções sustentáveis, equitativas e escaláveis. Não existe tamanho único. Toda comunidade tem fatores únicos a considerar, e projetar soluções de saúde é diferente dependendo de onde você está e do que você precisa. Resolver problemas complexos e entregar resultados mais expressivos significa engajar-se em uma abordagem verdadeiramente colaborativa e que coloque as pessoas em primeiro lugar. [1] Organização Mundial da Saúde. https://www.who.int/health-topics/cardiovascular-diseases/
[2] Organização Mundial da Saúde. 11 de junho de 2021. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/cardiovascular-diseases-(cvds)
[3] Organização Mundial da Saúde. 13 de desembro de 2017. https://www.who.int/news/item/13-12-2017-world-bank-and-who-half-the-world-lacks-access-to-essential-health-services-100-million-still-pushed-into-extreme-poverty-because-of-health-expenses
[4] Eiselé J. “How digital equality could boost heart health.” Fórum Econômico Mundial. 29 de setembro de 2021. https://www.weforum.org/agenda/2021/09/how-digital-equality-can-boost-heart-health/
[5] Fonga H, Harrisa E. “Technology, innovation and health equity.” Organização Mundial de Saúde. 2015. https://www.who.int/bulletin/volumes/93/7/15-155952.pdf
[6] Rees M, Torres D P. “Morality, Foresight, and Human Flourishing: An Introduction to Existential Risks.” Pitchstone Publishing. 2017.