mar 21, 2022 - Tiempo estimado de lectura: 10-12 minutos
Muitos profissionais do setor de saúde lidam com estresse e esgotamento. Isso ocorre principalmente por que profissionais altamente capacitados acabam gastando uma quantidade de tempo em tarefas rotineiras que afastam sua atenção do paciente. Por exemplo, nos departamentos de radiologia, a equipe de diagnóstico por imagem afirma que quase 25% do trabalho é ineficiente e poderia ser automatizado [1]. Com o aumento da IA na saúde, agora temos as ferramentas para automatizar essas tarefas e, assim, aliviar a carga sobre os tecnólogos de imagem, dando espaço para focar no atendimento ao paciente. Especialmente em modalidades complexas de imagem como tomografia computadorizada e ressonância magnética, a tecnologia habilitada para IA pode facilitar o planejamento e a execução de exames de rotina pelos tecnólogos, ajudando-os a obter imagens corretas com maior confiança e precisão já na primeira vez. Da mesma forma, veremos um aumento no uso de automação baseada em IA na terapia guiada por imagem, em que os médicos realizam procedimentos minimamente invasivos em pacientes com doenças cardíacas ou outras condições. Hoje, os médicos intervencionistas acabam gastando até duas horas registrando casos depois de um dia inteiro atendendo pacientes. A IA poderia ajudar a aliviar essa carga de trabalho, registrando automaticamente diferentes etapas do procedimento, permitindo que os médicos dediquem toda a atenção ao atendimento ao paciente.
O uso do atendimento virtual disparou no último ano, com cerca de 64% dos líderes globais de saúde dizendo que estão investindo pesado nisso. Embora muitos considerem essa tendência em tecnologia na área de saúde uma ameaça à relação médico e paciente, o aumento da colaboração virtual entre os próprios médicos abre oportunidades igualmente promissoras. Um ótimo exemplo seria a crescente adoção de tele-UTIs no atendimento intensivo. Conduzida por uma equipe intensivista em uma central de monitoramento que funciona de forma semelhante a um centro de controle de tráfego aéreo, uma tele-UTI pode estender recursos de cuidados críticos para o leito, independentemente de onde o hospital esteja. Com a coleta de dados sensíveis ao tempo, a equipe intensivista pode ser responsável por 50 a 1.500 leitos remotos de UTI por vez e intervir rapidamente caso as tendências dos dados indiquem sinais precoces de deterioração do paciente. Uma dessas inovações em imagens médicas, chamada Centro de Comando de Operações de Radiologia, permite que tecnólogos especializados em imagens treinem, orientem e ajudem remotamente colegas menos experientes ou especializados por meio de locais via satélite. Dessa forma, é possível oferecer apoio guiado em tempo real, tornando o conhecimento especializado mais amplamente disponível em todas as unidades, garantindo uma qualidade de imagem padrão em todos os locais e, ao mesmo tempo, melhorando o acesso ao atendimento médico. Em suma, o poder da colaboração virtual é triplo: pode facilitar o acesso a atendimento especializado, pode deixá-lo mais barato, e pode melhorar a constância na qualidade do atendimento bem como reduzir os riscos de segurança em tempos de pandemia. Três grandes motivos pelos quais se espera que essa tendência de tecnologia de saúde cresça significativamente nos próximos anos.
Da mesma forma, no ultrassom, usando uma plataforma de colaboração ao vivo, os ultrassonografistas experientes podem auxiliar remotamente colegas locais com exames, enquanto os colegas podem usar a mesma plataforma para discutir com eles o estado de saúde do paciente. Médicos intervencionistas — que realizam procedimentos minimamente invasivos guiados por imagens — também começaram a explorar o uso de plataformas de colaboração virtual para oferecer remotamente instruções e orientação aos colegas.
Pacientes e consumidores continuarão desempenhando papéis cada vez mais ativos em suas jornadas de saúde. De dispositivos vestíveis e aplicativos de rastreamento de saúde a treinamento de saúde pré-operatório e resultados passados pelo paciente, as inovações em tecnologia de saúde estão permitindo que as pessoas interajam melhor com os profissionais de saúde, tenham acesso a um atendimento de melhor qualidade e obtenham os recursos de que precisam para se manter informados e tomar medidas preventivas de saúde. Ao mesmo tempo, os profissionais de saúde estão se voltando cada vez mais para o monitoramento remoto de pacientes e visitas virtuais para maximizar o acesso ao atendimento, reforçar laços com populações em risco, minimizar o risco de transmissão da Covid-19, proporcionar experiências mais convenientes e reduzir a carga dos já escassos recursos hospitalares. Isso deu um novo e necessário impulso à implantação de soluções de saúde digital em grande escala. A previsão é de que, somente este ano, o mercado de telessaúde tenha um crescimento de mais de dois terços nos EUA. Mas, embora essa tendência em tecnologia de saúde seja um passo positivo para o sonho de oferecer atendimento “a qualquer hora e em qualquer lugar”, ainda há um longo caminho a percorrer. Segundo o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS), metade do mundo ainda não tem acesso a atendimento de qualidade e, sem nenhuma providência drástica for tomada, a OMS estima que 5 bilhões de pessoas ficarão sem acesso a saúde até 2030. Por isso é fundamental que as principais organizações de saúde do mundo continuem buscando tecnologias de saúde digital que levem o atendimento para mais perto do paciente e firmem parcerias com provedores locais para continuar melhorando a qualidade e o acesso a saúde para todos, não importa onde estejam.
Além de levar o atendimento ao paciente que está em casa, outra tendência em tecnologia de saúde que está permitindo um acesso mais igualitário ao atendimento é a mudança do atendimento centrado no hospital para o atendimento que vai até o paciente. Cada vez mais, pacientes que tradicionalmente precisam percorrer longas distâncias para receber atendimento médico especializado ou de última geração podem acessar essas tecnologias por meio de unidades de saúde menores (e às vezes até móveis). Ambientes fora do hospital, como centros de diagnóstico locais, estações de atendimento virtual e até estruturas de contêineres equipadas com tecnologia, podem levar o atendimento médico para mais perto do paciente. Tal medida é essencial para pessoas que moram em comunidades rurais e carentes. As unidades básicas de saúde e os consultórios locais, graças a uma combinação de suporte virtual especializado e tecnologias como ultrassom e imagem de raio-X, agora podem funcionar como hospitais remotos, oferecendo serviços como exames de ultrassom para gestantes. Ou, se um paciente chega com o pulso quebrado, um médico local pode fazer um exame de raio-X e imediatamente compartilhá-lo com um traumatologista, radiologista ou médico de emergência remoto para consulta em vez de exigir que o paciente faça uma longa viagem a um hospital de uma metrópole. Certos tipos de tratamentos especializados também se tornaram mais rotineiros, dando origem à tendência crescente de laboratórios dentro de consultórios e centros de cirurgia ambulatorial que leva para perto do paciente procedimentos minimamente invasivos e que salvam vidas. Prestar serviços de saúde mais habilitados para tecnologia nas instalações locais é uma tendência em tecnologia de saúde com potencial para transformar radicalmente o atendimento e aumentar ainda mais o acesso dos pacientes, sem falar na redução das emissões relacionadas às viagens. Por exemplo, em um futuro próximo, pode-se imaginar enfermeiros realizando exames de ultrassom rotineiramente em lojas ou centros comunitários, usando um dispositivo portátil com apoio remoto de um ultrassonografista especialista e algoritmos de IA que podem extrair informações básicas do exame.
Mais do que nunca, as equipes multidisciplinares de atendimento estão lutando para conectar e acompanhar todas as informações relevantes relativas a seus pacientes, com relatórios de subespecialidades, informações sobre a condição atual dos pacientes, dados demográficos, histórico de saúde, entre outras. Decidir sobre a terapia certa é igualmente complexo, especialmente em áreas como a oncologia na qual médicos e pacientes podem ter que decidir diante de um número absurdo de opções. É aí que entra o diagnóstico integrado: um campo em rápida evolução que permite que as organizações tenham sistemas inteligentes e conectados que oferecem uma visão completa e acionável de seus pacientes, unindo dados de imagens, monitoramento, laboratório, genômica e longitudinais. Os quadros multidisciplinares de tumores são um grande exemplo dessa tendência tecnológica em saúde. Com soluções de diagnóstico integradas, as equipes de atendimento agora podem oferecer cuidados abrangentes e centrados no paciente, unindo em um só painel dados do paciente vindos de fontes diferentes, facilitando assim diagnósticos colaborativos, tratamento e decisões de acompanhamento. Mas isso não significa que a tomada de decisão em oncologia será totalmente automatizada no futuro. Na verdade, o objetivo dessa tendência tecnológica no setor de saúde não é substituir humanos por automação, mas dar suporte às equipes de atendimento com orientações relevantes e baseadas em evidências para uma tomada de decisão fundamentada com os pacientes, para que possam fazer escolhas que lhes permitam desfrutar da melhor qualidade de vida possível, perto de seus entes queridos, pelo maior tempo possível. Vemos a mesma abordagem sendo adotada na área de cardiologia, onde soluções de diagnóstico integradas, aprimoradas por algoritmos inteligentes e análises preditivas, estão ajudando as equipes de atendimento de cardiologia a tomar decisões clínicas mais rápidas, fornecendo insights relevantes e acionáveis que ajudam a otimizar o atendimento ao paciente.
Para os diretores de hospital encarregados de gerenciar picos inesperados na demanda de pacientes, a capacidade de prever e se adaptar a circunstâncias que mudam rapidamente ganhou importância ainda maior. Como seria se pudéssemos prever possíveis gargalos no fluxo de pacientes em tempo real e evitá-los antes que ocorram? Os profissionais de saúde estão compartilhando cada vez mais dados em tempo real para visualizar uma capacidade inexplorada, facilitar proativamente as transições de atendimento de um ambiente para outro, bem como prever e se preparar para a demanda futura. Usando o poder da IA e da modelagem preditiva, podemos extrair padrões e insights relevantes do fluxo de pacientes e necessidades de atendimento do paciente de grandes quantidades de dados hospitalares, históricos e em tempo real para prever as necessidades de capacidade dentro de 24 a 48 horas. Após a validação inicial, os algoritmos resultantes podem ser atualizados regularmente para levar em consideração as tendências e circunstâncias recentes — oferecendo às equipes clínicas e operacionais as informações acionáveis e em tempo real de que precisam para tomar decisões eficazes e na hora certa. Ao incorporar essas práticas orientadas por dados no gerenciamento diário do fluxo de pacientes, os sistemas de saúde poderão aproveitar ao máximo os recursos e gerenciar as transições de atendimento de forma mais eficaz ao longo da jornada do paciente, desde a admissão hospitalar até a alta e volta para casa, garantindo que o paciente receba os cuidados certos, no lugar certo e na hora certa.
Com os sistemas de saúde sofrendo grande pressão de se adaptar a mudanças bruscas, adotar formas mais flexíveis de trabalho, coletar mais dados em suas operações e manter um nível de serviço consistente — sem extrapolar o orçamento — agora existe uma necessidade urgente de modelos de atendimento mais eficientes. Por isso as organizações de saúde estão implementando cada vez mais modelos de negócios “como um serviço”. Por exemplo, muitos estão se voltando ao SaaS (Software as a Service), em que os sistemas baseados em nuvem oferecem aos médicos, funcionários e pacientes a possibilidade de acessar dados remotamente, compartilhar informações importantes em tempo real e colaborar de forma mais eficaz, para uma melhor coordenação do atendimento. Um grande benefício dessa tendência de tecnologia em saúde é que os modelos SaaS geralmente exigem um investimento inicial menor e dão às organizações a flexibilidade financeira de pagar conforme a necessidade, levando a custos mais previsíveis. Outra grande vantagem dos modelos SaaS é sua eficiência energética global, importantíssima agora que precisamos encontrar maneiras mais responsáveis de usar energia e materiais. Quando as empresas migram para a nuvem, a utilização média do servidor pode chegar a 65%; no ambiente físico essa valor chega a quase 15%. E, enquanto a PUE (Power Usage Effectiveness) do data center médio é de 1,7, a média no mercado de nuvem é de apenas 1,2. Em suma, isso significa a necessidade de menos servidores e que todos os servidores em uso estão consumindo menos energia. Esse é apenas um exemplo de como modelos circulares orientados a serviços podem reduzir o desperdício e as emissões de carbono.
O setor de saúde é uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa, respondendo por mais de 4% das emissões globais de CO2 [2]. Líderes de saúde do mundo todo reconhecem o peso do setor de saúde nas mudanças climáticas e da necessidade de providências. Por isso, é cada vez maior o número de sistemas de saúde que passam a usar critérios de aquisição sustentáveis quando precisam de novos equipamentos médicos. Mas como podemos descarbonizar a saúde em resposta a um aquecimento global de 1,5 °C? Felizmente as opções são muitas. Por exemplo, mudar para modelos de negócios circulares "como um serviço", como o Enterprise Monitoring as a Service. Mas a transição para a energia renovável, bem como a melhoria da eficiência energética ao longo da vida dos dispositivos e sistemas utilizados na área da saúde são as áreas que oferecem mais possibilidades de melhorias. O consumo de eletricidade quando esses dispositivos são usados representa a maior parte do impacto ambiental total desses produtos. Em nível global, a energia renovável e o consumo eficiente de energia serão os responsáveis por impulsionar a descarbonização. Mas só é possível perceber esse potencial de economia de energia — e assim criar uma indústria de saúde sustentável e mais resiliente — por meio de ações orquestradas em nível nacional, setorial e tecnológico. É hora de unir forças, eliminar os bloqueios e disseminar conhecimento.
Não são apenas os profissionais de saúde que querem fazer escolhas sustentáveis na compra de tecnologia de saúde. Também é grande o número de consumidores que se preocupam com sua própria saúde e com a saúde do planeta. No entanto, no mundo frenético do e-commerce, é bastante comum que os consumidores — inclusive os que compram dispositivos de saúde pessoal — comprem o mesmo produto em dois ou três formatos para experimentá-los em casa. De acordo com Pitney Bowes, 51% dos compradores conscientemente fazem compras a mais pela internet, sabendo que devolverão os itens que não quiserem. Mas, no caso das devoluções, em algum ponto da cadeia muitas vezes “é mais barato” destruir o produto e evitar os custos de transporte, armazenamento, reetiquetagem do que devolvê-lo para a fonte. Então, o que podemos fazer para conciliar esses dois tipos de vertentes aparentemente contraditórias? Uma resposta seria destacar os benefícios ambientais de "repensar as devoluções" por meio de compras conscientes. Na Europa, vemos uma quantidade cada vez maior de marcas que aderem ao Compromisso Ecológico do Consumidor da UE para aumentar a conscientização sobre o impacto dos produtos sobre o meio ambiente. Uma forma de fazer isso é através da adoção de rotulagem ecológica que comunica, por exemplo, como eles estão reduzindo o uso de recursos, materiais e embalagens. Com o foco crescente em saúde — pessoal e do planeta — as escolhas sustentáveis oferecem às marcas a oportunidade de, mais do que nunca, trabalhar com consumidores interessados em tomar ações positivas para deixar um planeta mais saudável para as gerações futuras.
Em última análise, cada uma dessas tendências em tecnologia de saúde e compromissos de sustentabilidade só terá sucesso se forem convertidas em resultados mensuráveis. A capacidade de medir e repassar os resultados com detalhes é fundamental para provar o valor dos serviços de saúde, ajuda os provedores a comparar as opções de tratamento e revela oportunidades para melhorar ou até mesmo redefinir o atendimento médico. O fornecimento de dados detalhados sobre os resultados está se tornando cada vez mais um requisito para facilitar os métodos de reembolso, à medida que o setor de saúde se afasta dos modelos de taxa por serviço e se volta para os atendimento baseados em valor. À medida que aumenta a pressão para que as empresas de saúde redobrem seus esforços para proteger a saúde das pessoas e do planeta, a demanda por resultados comprovados está aumentando. Por isso, as organizações de saúde estão dedicando mais recursos para medir não apenas os resultados clínicos, mas também os resultados relacionados ao impacto social e à sustentabilidade ambiental, como o teste de neutralidade de carbono ou o uso de fontes de energia renováveis. No final, as soluções que entregam resultados mensuráveis para o bem das pessoas e do planeta.
Leia mais sobre essas e outras tendências de tecnologia em saúde nos seguintes artigos:
Referências
[1] Radiology staff in focus (2019). https://www.philips.com/c-dam/b2bhc/master/Specialties/radiology/radiology-staff-in-focus/radiology-staff-in-focus.pdf
[2] Health Care Without Harm (2019). Healthcare’s climate footprint: How the health sector contributes to the global climate crisis and opportunities for action (p.22). https://noharm-global.org/documents/health-care-climate-footprint-report