Os líderes de saúde estão adotando os benefícios da nuvem e do software como serviço (SaaS) depois que a pandemia os desafiou a se adaptar e inovar como nunca antes. 66% deles esperam migrar suas infraestruturas de tecnologia para a nuvem este ano – número que deve subir para 96% até 2024 [1]. Migrar para a nuvem, no entanto, é mais do que apenas uma transformação tecnológica. É uma transformação organizacional. Por meio de plataformas e soluções baseadas em nuvem, os sistemas de saúde podem começar a desbloquear insights clínicos e operacionais em escala, ao mesmo tempo em que aceleram os ciclos de inovação para uma entrega contínua de valor.
O futuro nunca parece óbvio – até que ele chega. Quem teria pensado, 25 anos atrás, que hoje nos sentiríamos à vontade para transferir dinheiro online sem hesitar? Ou que poderíamos reproduzir nossos filmes e séries favoritos onde quer que fôssemos? Ou que os carros seriam capazes de se conectar à internet, transformando veículos em softwares sobre rodas que podem ser atualizados “over-the-air”?
O armazenamento e a computação de dados baseados em nuvem, bem como o software como serviço (SaaS) fornecido por meio da nuvem, já estão arraigados em muitos aspectos de nossas vidas. A área da saúde, no entanto, tem tradicionalmente ficado para trás na adoção das tecnologias. E por razões compreensíveis, sendo as mais importantes as preocupações com segurança e conformidade regulatória. No entanto, apesar da hesitação inicial, um número crescente de líderes de saúde começou a adotar a nuvem, reconhecendo que as plataformas de nuvem criadas especificamente para o setor da saúde – e as soluções desenvolvidas com base nelas – podem ajudar a abrir o caminho para soluções de cuidados mais econômicas e conectadas, de forma altamente segura e escalável.
Em muitos aspectos, a COVID-19 catapultou a saúde para o futuro. Com a pandemia, surgiu a urgência da expansão das ofertas de cuidados virtuais pelos líderes de saúde, como uma forma de se conectar com os pacientes para além dos muros do hospital. Ao mesmo tempo, buscava-se flexibilidade para poder aumentar ou diminuir a escala sem grandes gastos iniciais de capital. O imperativo de uma boa eficiência na gestão de crises também exigia rapidez no intercâmbio de informações do paciente entre sistemas e ambientes de atendimento. Graças à flexibilidade dos serviços e soluções baseados em nuvem com pagamento conforme o uso, os provedores de serviços de saúde puderam expandir rapidamente as tecnologias de saúde digital para atender às novas demandas. Como resultado, a aceitação da nuvem aumentou significativamente [2].
E a nova realidade da "saúde distribuída" veio para ficar. Cuidados virtuais, como o monitoramento cardíaco remoto, estão se transformando em um pilar do setor, ajudando os provedores de saúde a economizar custos e ampliar seu campo de visão, apoiando transições de cuidados do hospital para casa. Biossensores vestíveis podem transmitir dados diretamente para a nuvem, apoiando a tomada de decisões clínicas à distância. E, por meio da colaboração remota entre provedores de cuidados, os sistemas de saúde podem disponibilizar mais amplamente o conhecimento especializado, para lidar com problemas de falta de pessoal e lacunas de habilidades. Modelos virtuais "hub-and-spoke", como o Centro de Comando de Operações de Radiologia são um ótimo exemplo, oferecendo a funcionários em locais geograficamente dispersos assistência remota de uma equipe central de especialistas altamente experientes. Tudo isso com a flexibilidade para aumentar ou diminuir conforme as demandas evoluem, sem ficar preso a despesas de capital fixo e sem a necessidade de instalar novos sistemas.
Os dados do paciente sendo gerados em um número cada vez maior de parâmetros e por meio de diferentes sistemas e modalidades, e por isso a integração desses dados ao longo da jornada do paciente também está se tornando mais importante.
O tratamento do câncer pode ser tomado como exemplo. Atualmente, enquanto correm contra o tempo, os médicos muitas vezes sofrem para encontrar todos os dados de que precisam. Com a limitação da interoperabilidade entre diferentes fontes de dados, é difícil obter uma visão geral. Soluções seguras baseadas em nuvem podem ajudar a gerar uma visão mais unificada e longitudinal do paciente, reunindo dados de diferentes sistemas hospitalares e dando suporte a reuniões presenciais ou virtuais dos conselhos de tumores para a tomada de decisões colaborativas. Acrescente-se a isso a possibilidade de coletar resultados relatados pelo paciente sem que estes tenham que deixar o conforto de sua casa, e nós começamos a ver os contornos de um cuidado de precisão verdadeiramente conectado e centrado no paciente.
Na medida em que os líderes de saúde embarcam na sua jornada de migração para a nuvem, a proteção de dados é uma consideração central. O processamento de dados na área da saúde deve cumprir padrões rigorosos, como o HIPAA nos EUA e o GDPR na UE. Infelizmente, as organizações de saúde continuam sendo um dos principais alvos de violações de dados, o que demanda medidas adicionais de proteção de segurança de dados [3].
Embora a necessidade de segurança de dados e conformidade regulatória tenha historicamente motivado as organizações de saúde a manter os dados no local, hoje há uma crescente conscientização de que a migração para a nuvem pode, de fato, ser o melhor caminho a ser tomado. Na verdade, 60% dos líderes de saúde agora citam a segurança como um dos principais benefícios da nuvem [4]. Quando as organizações de saúde contam com seus próprios data centers, elas são responsáveis pela segurança de ponta a ponta, o que pode se tornar proibitivamente complexo e demorado à medida que as infraestruturas de TI se expandem ao longo do tempo. Os serviços e soluções baseados em nuvem podem reduzir a dependência do hardware local para o armazenamento de dados confidenciais, enquanto as atualizações de software automatizadas mantêm os sistemas atualizados.
Tudo isso precisa acontecer, é claro, em conformidade com os regulamentos locais de saúde. É por isso que, quando desenvolvemos a nossa plataforma HealthSuite, incluímos os controles regulatórios, de privacidade e de segurança que atendem aos requisitos de saúde muitas vezes específicos de cada região. Isso permite que nossos clientes, nossos parceiros de inovação e nossos próprios desenvolvedores criem e implementem aplicações em nuvem sob medida, seguros e em conformidade com os regulamentos.
Trabalhando sobre essas bases, a próxima grande oportunidade na área da saúde será a de capturar os insights que podem ser obtidos dos dados que estamos começando a conectar e integrar. É neste aspecto que a nuvem também está se transformando em um facilitador vital, com seus poderosos recursos de computação e seus recursos avançados de aprendizado de máquina, oferecidos como microsserviços. Esses microsserviços fornecem os elementos básicos para o desenvolvimento de novas soluções digitais que, uma vez validadas e aprovadas, podem ser implantadas em escala para ajudar a melhorar os resultados clínicos e a eficiência operacional.
Na radiologia, por exemplo, podemos potencializar os recursos de leitores humanos com algoritmos baseados em nuvem que os ajudam a detectar anormalidades em imagens médicas, como radiografias de tórax, permitindo que eles priorizem cargas de trabalho, aumentem a confiança no diagnóstico e realizem, por fim, um diagnóstico mais preciso. À medida que o uso da nuvem na área da saúde se solidificar, cada vez mais esses algoritmos poderão ser implantados dentro da base instalada de equipamentos médicos de um hospital, disponibilizando insights relevantes para médicos e para toda a equipe, quando e onde for necessário. Com os modelos baseados em SaaS, os provedores de serviços de saúde podem se beneficiar de atualizações regulares ao longo do tempo, à medida que os algoritmos aprendem com novos dados e se tornam mais precisos.
Por meio da nuvem, as organizações de saúde também poderão acessar algoritmos de terceiros com mais facilidade, como os de startups, por exemplo. Os marketplaces de software baseados em nuvem, combinados com soluções que garantem uma integração perfeita aos fluxos de trabalho clínicos, permitem que os profissionais de saúde escolham e implantem algoritmos de acordo com suas necessidades, pagando apenas por aquilo que for usado.
Na frente operacional, os algoritmos preditivos podem monitorar continuamente os equipamentos médicos para ajudar a identificar necessidades de manutenção iminentes e, assim, evitar paralisações evitáveis. Estamos migrando para um mundo em que os sistemas e dispositivos médicos terão seu "gêmeo digital" ou representação virtual na nuvem, permitindo que os gestores de saúde monitorem e gerenciem sua frota de qualquer local para otimizar o uso e o atendimento ao paciente. Sugestões personalizadas podem ajudá-los a executar suas operações com mais eficiência, recomendando, por exemplo, aplicações relevantes que ainda não estão usando, ou destacando oportunidades para melhorar o agendamento e o rendimento de pacientes.
Adotar a nuvem também muda a própria natureza da inovação na saúde.
As plataformas de nuvem compatíveis com a área da saúde oferecem uma base flexível para desenvolvimento e testagem rápida de aplicações digitais. Equipes multifuncionais que trabalham em ciclos curtos e ágeis podem disponibilizar novas aplicações digitais para médicos ou pacientes com mais rapidez e, em seguida, adicionar recursos e funcionalidades novos ou aprimorados à medida que obtêm feedback adicional do usuário. Isso significa que as organizações de saúde ficam capacitadas para inovar mais rapidamente, e à base de evoluções graduais, mais fáceis de irem sendo absorvidas.
Tradicionalmente, os líderes de saúde que buscavam adotar novas tecnologias precisavam passar por ciclos anuais de orçamento baseados em capital ou adotar soluções em uma única implementação abrangente, o que diminuía a velocidade da inovação. Com as necessidades dos pacientes em rápida transformação e a aceleração dos avanços tecnológicos, a nuvem permite que os profissionais de saúde experimentem com mais agilidade – duplicando o que funciona e descartando o que não funciona.
Na Philips, também estamos incorporando essa evolução rumo à inovação contínua, para aprofundar nosso relacionamento com os clientes e oferecer cada vez mais valor a eles, por meio de soluções modulares e atualizáveis – assim como os aplicativos em um smartphone ou o software em um carro inteligente e conectado oferecem recursos novos ou aprimorados a cada atualização.
Temos, cada vez mais, equipes de desenvolvimento e operações trabalhando conjuntamente em todo o ciclo de vida das aplicações, desde a etapa de desenvolvimento e testes até a implantação e operação (DevOps). Trabalhando a partir das necessidades dos clientes, o foco conjunto dessas equipes de ponta a ponta é fornecer e atualizar rapidamente inovações que apoiem médicos e equipes em sua missão de melhorar a vida dos pacientes.
Para fazer isso de forma eficaz, nos beneficiamos de uma rede global de parcerias de inovação clínica. Isso nos permite disseminar o conhecimento especializado mais recente e comprovado com maior rapidez, tornando-o amplamente disponível por meio da nuvem. Na oncologia, por exemplo, os tratamentos estão evoluindo de maneira mais rápida do que as equipes clínicas conseguem acompanhar, o que faz com que seja cada vez mais difícil selecionar o tratamento mais adequado para cada paciente. Por meio da nossa parceria com o Dana-Farber Cancer Institute, podemos oferecer às equipes de tratamento do câncer recomendações para terapias ou ensaios clínicos específicos, adaptados às características do paciente. À medida que novos conhecimentos clínicos e novos feedbacks dos usuários são coletados, novas atualizações de software podem ser implantadas por meio da nuvem para equipes de tratamento de câncer em todo o mundo – colocando as melhores práticas atualizadas ao seu alcance. É assim que a inovação baseada em nuvem pode impulsionar a acessibilidade, a qualidade e a equidade dos cuidados ao paciente.
Não queremos sugerir aqui, claro, que migrar para a nuvem seja como apertar um botão. É uma jornada complexa, que levará anos para a maioria de nossos clientes. E é uma jornada e tanto para a Philips, também. Qualquer organização que tenha acumulado um grande número de sistemas e infraestruturas legados ao longo dos anos terá que gerenciar uma arquitetura híbrida durante sua jornada para a nuvem [5].
Há também um forte argumento para manter certos tipos de processamento de dados perto de onde os dados são coletados.
Na terapia minimamente invasiva guiada por imagem, por exemplo, em que os médicos intervencionistas navegam com minúsculos cateteres pelo corpo humano, a coordenação precisa entre mãos e olhos requer orientação visual em tempo real. Faz muito mais sentido, de fato, executar essas aplicações em tempo real, críticas à segurança, na própria sala de intervenção, com os dados sendo processados localmente. Essas aplicações, no entanto, ainda poderão ser atualizadas regularmente via nuvem, para garantir o acesso às versões mais recentes. A nuvem também pode servir como uma ferramenta poderosa para desenvolver novos algoritmos que ajudem a planejar, orientar ou documentar procedimentos, que podem ser implementados localmente para dar suporte aos médicos intervencionistas em seus fluxos de trabalho diários.
Em essência, a nuvem é um meio para um fim – não um fim em si mesma.
Em combinação com uma rede segura e interoperável de conexões com sistemas hospitalares locais, as soluções baseadas em nuvem representam uma grande oportunidade para os líderes de saúde desbloquearem o valor dos dados gerados ao longo da jornada do paciente, do hospital ao lar. Ao transformar dados em insights escaláveis, podemos ajudar os profissionais de saúde a atingir o máximo das suas potencialidades, ajudando-os a fornecer melhores resultados a um custo menor e a aprimorar a experiência do paciente e da equipe. Em última análise, isso transformará os sistemas de saúde – da mesma maneira que já testemunhamos a nuvem mudar profundamente outros setores.
Referências
[1] Accenture Digital Health Technology Vision 2021. https://www.accenture.com/_acnmedia/PDF-156/Accenture-Digital-Health-Tech-Vision-2021.pdf
[2] Cresswell, K, Williams, R, & Sheikh, A. Using cloud technology in healthcare during the COVID-19 pandemic. The Lancet, 2021, 3:1. https://doi.org/10.1016/S2589-7500(20)30291-0
[3] https://www.devprojournal.com/industry/healthcare/healthcare-facilities-remain-a-top-target-for-data-breaches/
[4] https://www.accenture.com/_acnmedia/PDF-145/Accenture-Health-Content-Cloud-Imperative-in-Healthcare.pdf
[5] Ahead in the Cloud: Best Practices for Navigating the Future of Enterprise IT. 2018. Orban, S.
Former Chief Technology Officer at Royal Philips from 2016 to 2022
Global Head of SaaS Development, Royal Philips With more than 25 years of experience in healthcare technology innovation, Kalavathi leads Philips’ global transformation towards offering SaaS-based informatics solutions as part of our customer-first innovation strategy. She previously headed the Philips Innovation Campus in Bengaluru, India. Prior to that, she held multiple global leadership positions at Philips.