Há uma expressão que as pessoas costumam usar quando querem enfatizar a ideia de interdependência: “Nada está consertado até que tudo esteja consertado”. Você certamente poderia argumentar que é esse o caso quando se trata da saúde de nossas populações e da saúde do nosso planeta. No entanto, nessa área, não há razão para deixarmos que a busca por uma solução perfeita e totalmente abrangente se torne um obstáculo contra os avanços muito significativos que podemos e precisamos obter hoje. A conexão entre saúde humana e saúde ambiental está bem estabelecida.[1] Para que sejam realmente saudáveis, as pessoas precisam de um mundo saudável onde possam viver. Mas a dura realidade é que as mudanças climáticas estão ameaçando a vida e os meios de subsistência de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo. Os líderes do setor de saúde reconhecem isso e também o papel crucial desempenhado pela sustentabilidade no cumprimento das metas de saúde populacional no longo prazo. Realmente, por essa razão um número cada vez maior de provedores de atendimento estão usando critérios de aquisição ecológicos ao adquirir equipamentos médicos.
Ao mesmo tempo, os sistemas de saúde do mundo são responsáveis por mais de 4% das emissões globais de CO2[2] — mais do que os setores de aviação ou navegação! Enquanto setor, nós — empresas de tecnologia em saúde, sistemas de saúde e outras partes interessadas — temos a responsabilidade de agir, porque cuidar melhor do planeta nos permitirá cuidar melhor das pessoas.
A boa notícia é que ninguém precisa carregar esse fardo sozinho. Estamos todos juntos nessa, e há muito que podemos fazer para aprimorar o estado de coisas, aqui e agora. Como uma empresa orientada por um propósito, nós, da Philips, estamos cientes de nossa responsabilidade perante a sociedade. É por isso que estamos intensificando nossas ações climáticas e circulares criando uma parceria com nossos clientes e fornecedores, visando a inovar em termos de soluções que aprimorem a saúde e o bem-estar das pessoas e, ao mesmo tempo, respeitando o meio ambiente. Por exemplo, estamos adotando modelos de negócios inovadores, operando em um ambiente carbono neutro, incorporando práticas circulares e aplicando aos produtos nossos princípios de EcoDesign. Acreditamos que, trabalhando em conjunto com nossos clientes, colegas e parceiros em toda a cadeia de valor, podemos reduzir nossa pegada de carbono coletiva e, assim, deixar um planeta mais saudável e um setor de saúde mais resiliente e sustentável para as futuras gerações.
Os estabelecimentos hospitalares têm a maior intensidade energética de todas as edificações financiadas pelo governo e emitem 2,5 vezes mais gases de efeito estufa do que os edifícios comerciais.[3] Além disso, produzem 13 kg de resíduos por leito por dia, dos quais 15-25% são resíduos perigosos [4]. Então, quais são as estratégias, soluções e serviços que os sistemas de saúde podem adotar agora para ajudá-los a reduzir sua pegada ambiental e integrar formas de trabalho sustentáveis? Em nossa opinião, o uso responsável e sustentável de energia e materiais é fundamental para a descarbonização da saúde.
A transição para energia renovável pode exercer um grande impacto sobre as operações de grande escala com uso intensivo de energia. Nessa área, a parceria com seus pares pode fazer uma enorme diferença, oferecendo a escala necessária. A Philips, por exemplo, garantiu seu fornecimento de eletricidade renovável na Europa por meio de acordos de compra de energia liderados por consórcios. O consumo de energia de equipamentos médicos é outra área com grande potencial de impacto. Na Philips, a fase de uso de nossos produtos por clientes representa cerca de 80% do nosso impacto ambiental total. Por essa razão estamos trabalhando continuamente — por meio de nossos princípios de EcoDesign — para reduzir o consumo de energia de todos os nossos produtos. Nossa plataforma Azurion de terapia guiada por imagem, por exemplo, oferece um consumo de energia até um máximo de 19% menor ao longo do uso por toda a sua vida útil, em comparação com o sistema que a antecedeu [5].
A humanidade tem apenas um planeta, e já estamos abusando de seus recursos. A extração e fornecimento de matérias-primas e a fabricação de equipamentos são responsáveis por 40-50% das emissões globais de CO2, o que torna a migração para uma economia circular fundamental para o cumprimento das metas climáticas do Acordo de Paris. No que se refere aos equipamentos médicos, portanto, é vital que encontremos formas de usar os materiais de forma sustentável.
Vejam o hélio, por exemplo. Esse gás nobre é fundamental para manter a disponibilidade dos diagnóstico por RM no longo prazo, e sua oferta global é limitada. Na Philips, desenvolvemos o BlueSeal, um magneto totalmente vedado, projetado para facilitar a transição para operações sustentáveis e livres de hélio por toda a vida, além de simplificar a instalação e reduzir interrupções dispendiosas dos serviços de ressonância. Ao contrário da tecnologia magnética tradicional, que requer cerca de 1.500 litros de hélio líquido para o resfriamento durante sua operação, o BlueSeal da Philips utiliza uma nova tecnologia de microarrefecimento altamente eficaz que requer apenas 7 litros de hélio líquido para o resfriamento, menos de 0,5% do volume necessário atualmente [6].
A circularidade é crucial para o uso sustentável dos recursos e, por extensão, para a descarbonização do atendimento médico. Existem várias opções disponíveis para que os hospitais ampliem o valor, os recursos e a usabilidade de seus sistemas instalados existentes ao longo de toda a sua vida útil. Por exemplo, a adoção de modelos “como serviço”, que ampliam a eficiência dos recursos durante a vida útil e implementam soluções digitais inteligentes.
Fundamentalmente, nossos clientes do sistema de saúde e seus pacientes estão interessados na funcionalidade e na qualidade dos serviços que um sistema pode oferecer, não no sistema propriamente dito. Para a Philips, não se trata de oferecer um scanner A, B ou C, mas de oferecer o melhor diagnóstico por imagem e sistemas de informática possíveis para favorecer um diagnóstico de precisão e um tratamento personalizado. Não surpreende, então, que estejamos vendo cada vez mais clientes querendo pagar pelo acesso e não pela propriedade — por exemplo, por meio de modelos de negócios baseados em locação, uso ou desempenho, ajudando a evitar as despesas de capital iniciais.
Em vez de precisar comprar novos equipamentos, os provedores de atendimento podem maximizar o retorno de seus investimentos iniciais e expandir seus recursos por meio de upgrades, no local ou remotos. Com os upgrades do SmartPath de Philips, por exemplo, os clientes obtêm nossos aprimoramentos no fluxo de trabalho, gerenciamento de doses, recursos clínicos e qualidade de diagnóstico por imagem mais recentes com os equipamentos que já possuem. Cada vez mais a manutenção é realizada remotamente, usando IA para facilitar a manutenção preditiva. O resultado? Uma vida útil mais longa, maior utilização e menor impacto ambiental.
Com a constante pressão sobre o financiamento enfrentada pelo setor de saúde, e como nem todas as aplicações exigem novos equipamentos, muitos prestadores de atendimento estão buscando ampliar seus recursos dentro de um orçamento restrito, sem comprometer a qualidade. Programas como os sistemas da Edição Circular da Philips permitem que os clientes se beneficiem de uma tecnologia minuciosamente recondicionada, atualizada e de qualidade testada a um custo mais baixo. Isso pode ampliar sua capacidade de prestar um atendimento clínico e, ao mesmo tempo, reduzir seu impacto ambiental.
Se o recondicionamento deixar de ser uma opção, garantimos uma redefinição de uso responsável. Ao recuperar peças importantes, podemos fazer a manutenção de sistemas mais antigos maximizando, novamente, o valor de sua vida útil. Se isso também deixar de ser uma opção, reciclamos o material de volta ao estado de matéria-prima por meio das redes de reciclagem locais. Como parte da ambição da Philips de fechar o ciclo de todos os equipamentos profissionais até 2025, mais de 3.000 sistemas foram devolvidos à empresa para uma redefinição de uso responsável em 2021.
Com sua capacidade de nos permitir criar recursos virtuais, as ferramentas digitais e softwares nos permitem “desmaterializar”, proporcionando o máximo de valor com um mínimo de recursos. Nosso ponto de vista é que isso irá impulsionar uma migração das instalações clínicas com uso intensivo de recursos para cenários em rede e domiciliares de custo mais baixo, facultando o acesso ao atendimento a um maior número de pessoas. Tal premissa também favorece o atendimento preventivo e a telessaúde, ou atendimento virtual, ao possibilitar a interação remota entre pacientes e os profissionais de saúde, evitando os respectivos deslocamentos e correspondentes emissões de CO2. Um de nossos maiores clientes nos EUA conseguiu fechar duas pequenas clínicas de atendimento primário e consolidá-las a outras clínicas, resultando em uma redução de 51% das emissões de gases de efeito estufa por cada consulta ambulatorial [7].
Também estamos testemunhando a desmaterialização na forma de migração para soluções baseadas em nuvem, em serviços e em software, com a resultante economia nos materiais necessários para o hardware corporativo no local e reduzindo as emissões de CO2. Estudos mostraram uma redução de 84% na energia consumida quando nossos clientes usam grandes data centers centralizados baseados em nuvem, ao invés de uma infraestrutura no local [8]. Da mesma forma, também vemos softwares que aumentam a eficiência maximizando a utilização de um hardware. O recurso PerformanceBridge da Philips, por exemplo, ajuda os centros de diagnóstico por imagem a explorar melhor seus sistemas de radiologia. Essa plataforma de dados em tempo real baseada na web agrega dados de diversas fontes e se integra ao visor de imagens do hospital, para que a equipe obtenha os dados necessários com o respectivo contexto. Os dados operacionais são apresentados de forma clara, para que os funcionários possam prontamente identificar o que está fora da curva e oportunidades de melhoria, também no que se refere ao uso de materiais/energia.
Além do uso responsável e sustentável da energia e dos materiais, é fundamental otimizar ainda mais as jornadas de tratamento de modo a reduzir seu impacto ambiental. Hoje, as jornadas dos pacientes costumam ser árduas, com múltiplas consultas para diagnóstico, tratamento e acompanhamento. E com o número crescente de comorbidades nas populações em envelhecimento, isso é frequentemente replicado ao longo das várias especialidades. Assim, ao mesmo tempo em que reduzimos a pegada ambiental da tecnologia em saúde, também é vital aprimorar o sistema de atendimento — investindo na prevenção, nos diagnósticos certos da primeira vez, em terapias minimamente invasivas e no pós-atendimento — em prol do paciente e do meio ambiente.
A cadeia de abastecimento (Escopo 3, mercadorias e serviços adquiridos) é responsável por 71% das emissões de CO2 dentro da UE.[9] Então, se pretendemos atuar com seriedade no sentido de retirar o carbono do atendimento médico, precisamos adotar uma visão da cadeia de valor de ponta a ponta, transformando a aquisição em uma premissa básica dos nossos esforços de sustentabilidade e incentivando os fornecedores a trabalharem conosco em estreita colaboração — por exemplo, oferecendo melhores condições de pagamento àqueles que adotam medidas concretas de ação climática. Em 2018, a Philips se tornou a primeira empresa de tecnologia em saúde do mundo a ter suas metas de emissão de CO2 avaliadas e aprovadas pela iniciativa Science Based Targets (SBTi, Metas Baseadas na Ciência). Agora, estamos chegando ainda mais longe, intensificando nosso programa de sustentabilidade de fornecedores para que pelo menos 50% dos nossos fornecedores (com base nos gastos) tenham se comprometido com metas de redução de carbono baseadas na ciência até 2025 (2021: 28%). Ao apoiar nossos fornecedores e incentivá-los a adotar e cumprir essas metas, ambicionamos obter um impacto sete vezes maior do que apenas reduzir as emissões de CO2 de nossas próprias operações.
Como dissemos no início, os desafios de saúde da população e do planeta que estamos enfrentando são interligados: não podemos abordar um sem atacar o outro. Tanto nós quanto vocês acreditamos sinceramente que acolher a sustentabilidade em toda a cadeia de valor da saúde — e em todos os aspectos dos negócios da empresa (operações, inovação, prestação de serviços etc.) — é o único caminho a seguir.
Nenhum de nós tem todas as respostas. E nenhum de nós pode fazer isso sozinho. Como uma empresa de tecnologia em saúde, nós, na Philips, só podemos cumprir nossos objetivos trabalhando junto com os outros membros do nosso ecossistema — prestadores de atendimento, profissionais de saúde, parceiros de conhecimento e fornecedores.
No entanto, com nosso conhecimento coletivo, nossa capacidade de inovação e nosso entendimento compartilhado da necessidade de promover mudanças sistêmicas, podemos combinar práticas sustentáveis com métodos de tratamento seguros, eficientes e eficazes para obter melhores desfechos, custos mais baixos e uma melhor experiência de pacientes e funcionários. Todos os prestadores de serviços de saúde agora têm uma estratégia de sustentabilidade, assim como as empresas de tecnologia em saúde como a Philips. Este é o momento de juntarmos o que sabemos e alinharmos nossos interesses e objetivos compartilhados e nossas estratégias de ação. Histórias de sucesso são vitais para mostrar o que pode ser feito, que podemos cuidar do planeta enquanto cuidamos das pessoas. Por isso adoraríamos saber o que sua organização está fazendo e suas ideias inovadoras, no sentido de tirar o carbono do atendimento médico e, assim, ajudar a criar um futuro sustentável.
[1] The Lancet, October 2017, https://gahp.net/the-lancet-report-2/
[2] Health Care Without Harm (2019). Healthcare’s climate footprint: How the health sector contributes to the global climate crisis and opportunities for action (p.22). https://noharm-global.org/documents/health-care-climate-footprint-report
[3] https://www.ecomedsupply.com/Healthcare-Impact-on-Environment-s/1739.htm
[4] https://practicegreenhealth.org/topics/waste/waste-0
[5] Comparada à plataforma anterior, Allura Xper. A exata redução de energia depende da configuração.
[6] https://www.philips.com.br/healthcare/resources/landing/the-next-mr-wave/sealed-mr-technology
[7] https://www.beckershospitalreview.com/telehealth/why-telehealth-is-a-weapon-against-climate-change.html
[8] https://aws.amazon.com/about-aws/sustainability/
[9] Health Care Without Harm (2019). Health care’s climate footprint: How the health sector contributes to the global climate crisis and opportunities for action (p.22). https://noharm-global.org/documents/health-care-climate-footprint-report
Former Chief Business Leader Precision Diagnosis Kees Wesdorp led Philips’ Precision Diagnosis business cluster from 2020 to the end of 2022.
Philips Global Head of Sustainability Mr. Metzke leads Philips’ activities in Sustainability where he drives the company’s strategy towards innovative, sustainable business models and embedding sustainable and circular ways of working across Philips. In particular, Robert and his team are leading all activities with regards to Philips' environmental responsibility, with a focus on climate action, circular economy and expanding access to healthcare in underserved communities, as part of Philips overall purpose to improve people's health and well-being. Before joining Philips, Mr. Metzke worked at McKinsey & Company as a consultant where he gained 5 years of experience in strategy and innovation in the high-tech, healthcare and public sectors. Mr. Metzke has a background in journalism, science publishing (Science/ AAAS) and academic research (physics). He is married, has three children and lives in the Netherlands.
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