fev 14, 2022 - Tempo de leitura previsto: 5-7 minutos
Foto: Amref Flying Doctors, Gregg Telussa
Segundo a Organização Mundial da Saúde e o Banco Mundial, até 3,5 bilhões de pessoas, ou seja, metade da população mundial, não têm acesso aos serviços de saúde de que precisam [1]. A pandemia atual só intensificou essa situação, sobrecarregando os sistemas globais de saúde, exacerbando as desigualdades na saúde e forçando populações vulneráveis a posições ainda mais precárias. A pandemia também estagnou os progressos para alcançar a Cobertura Universal de Saúde (CUS) até 2030, o compromisso assumido por todos os Estados-membros das Nações Unidas em 2015, e a resposta da COVID-19 tornou mais claro do que nunca que a cobertura de saúde dentro e entre os países é profundamente desigual. Eis três maneiras que o setor privado pode ajudar a reunir ferramentas, financiamento e expertise como forma de fortalecer os sistemas de saúde:
À medida que entramos no terceiro ano da pandemia, não podemos permitir que o progresso em direção à cobertura universal de saúde desacelere. Embora a pandemia tenha desbloqueado gastos maciços em saúde, os gastos com crises não são iguais à melhoria do sistema de saúde no longo prazo ou à resiliência adicional.
Não só a pandemia reativou o apelo para a construção de sistemas de saúde mais robustos e resilientes, como também acelerou a transformação digital da saúde e a adoção generalizada de tecnologias digitais. Essas tecnologias inovadoras, especialmente quando tornadas mais acessíveis às pessoas em comunidades carentes e remotas, podem ajudar a enfrentar os desafios globais de saúde, como o surgimento de doenças não transmissíveis e a mortalidade materna e infantil.
No Brasil rural, por exemplo, obter o diagnóstico e o cuidado certos de doenças como diabetes e hipertensão muitas vezes requer viajar para uma unidade médica urbana, ou seja, uma viagem que nem todos podem pagar, especialmente não de forma contínua. Além disso, médicos com a especialização certa nem sempre estão disponíveis mesmo em cidades. Trabalhando com a SAS Brasil, uma organização sem fins lucrativos, a Philips e a Philips Foundation estão levando para áreas rurais estruturas de contêiner equipadas com tecnologias como ultrassom, eletrocardiograma e software para monitoramento de gestantes. As estruturas do contêiner oferecem sala odontológica, sala de procedimentos, consultório e cabine de telesserviço com atendimento virtual disponível para 22 especializações.
Na República do Congo, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Governo da República do Congo, em parceria com a Philips, estão implementando o programa Eboteli, para fortalecer a saúde materno-infantil. Como parte da primeira fase do programa, 19 instalações no nível primário e hospitalar estão sendo atualizadas e recebendo infraestrutura moderna, energia, água, equipamentos médicos, software e serviços. O programa está impactando a vida de 500.000 mulheres e crianças, e a intenção é dimensioná-lo para todo o país. Projetos como este são especialmente vitais, uma vez que a COVID-19 afetou desproporcionalmente mulheres e meninas, particularmente aquelas que vivem em países de baixa e média rendas [2]. Aproveitar soluções e conhecimentos do setor privado pode ajudar a acelerar a transformação digital da saúde e o progresso para alcançar a cobertura universal de saúde. Quando abordada de forma inclusiva para evitar uma crescente divisão digital, a transformação digital pode melhorar a eficiência e a eficácia do sistema de saúde em geral, bem como aumentar o tão necessário acesso à saúde por meio de tecnologias inovadoras, como o ultrassom portátil, e do atendimento virtual. Medir nosso impacto nos ajuda a garantir que estamos contribuindo de maneira quantificável para o esforço global para garantir que cada pessoa, não importa quem seja ou onde mora, tenha acesso ao atendimento médico de qualidade.
Há uma necessidade urgente de mais e melhores investimentos em sistemas de saúde, fundamentados na medicina de família e comunidade, para garantir que ninguém fique de fora. As empresas podem ajudar colaborando com instituições financeiras de desenvolvimento para fornecer soluções financeiras que atendam às necessidades específicas dos profissionais de saúde. As soluções financeiras podem incluir capital de desenvolvimento para viabilidade, financiamento de pacientes para empréstimos digitais em escala inicial, empréstimos digitais de fácil acesso e modelos de financiamento baseados em desempenho ou uso. Ao contribuir para fundos de impacto social em larga escala, as empresas podem ajudar a aumentar os investimentos globais. Em reconhecimento ao papel catalítico que o setor privado pode desempenhar na mobilização do financiamento da medicina de família e comunidade, a Philips está trabalhando com investidores, como a Investment International (antiga FMO), para destravar investimentos em medicina de família e comunidade para comunidades carentes na África Subsaariana e fazendo parcerias com organizações, como a Total Impact Capital e a Health Finance Coalition. Uma iniciativa de financiamento que ajuda a tornar a medicina de família e comunidade mais acessível em toda a África aplica uma “abordagem financeira duplamente combinada” que não apenas combina o financiamento de investimentos, mas também se engaja com o ecossistema mais amplo para fortalecer a receita dos projetos.
O financiamento de impacto oferece novas oportunidades para projetos que os parceiros bancários tradicionais muitas vezes não conseguem financiar (devido a altos riscos e baixos retornos), mas que proporcionam um alto retorno social. A Philips Foundation, por exemplo, criou um novo veículo de investimento de impacto social que visa a acelerar o desenvolvimento de oportunidades de acesso ao atendimento possivelmente de alto impacto e a reduzir a desigualdade na saúde, alimentando empresas sociais em estágio inicial por meio de investimentos e apoio adequados ao estágio.
A necessidade de colaboração entre diferentes setores é parte integrante da transformação digital da saúde. As oportunidades estão surgindo para se associar de novas formas que alavancam tanto a expertise pública quanto a privada. Por exemplo, a Philips e a Fundação Bill & Melinda Gates anunciaram recentemente um projeto para desenvolver um pacote de aplicativos baseado em inteligência artificial (IA) para melhorar a qualidade e acessibilidade do atendimento obstétrico em países de baixa e média rendas. O projeto visa a reduzir significativamente a quantidade de mulheres que morrem por causas evitáveis relacionadas à gestação e ao parto que, atualmente, é superior a 800 mulheres todos os dias em todo o mundo [3], ao mesmo tempo em que reduz a mortalidade e a morbidade fetais.
Uma colaboração mais longa é a parceria de oito anos entre a Amref Health Africa e a Philips para transformar a assistência médica em toda a África. O modelo de negócio Partnership for Primary Care (desenvolvido em conjunto pela Amref e a Philips) representa o primeiro modelo de parceria público-privada dimensionável para a medicina de família e comunidade na África. Resultados do piloto no condado de Makueni: 90% mais pessoas procuram atendimento na hora certa e no lugar certo e quase 50% mais mulheres fazem partos em uma instalação. Esses resultados demonstram que a assistência médica de boa qualidade pode ser entregue de forma dimensionável e financeiramente sustentável, sem incorrer em dificuldades financeiras para as pessoas das comunidades. Quando empresas privadas, organizações sem fins lucrativos, governos e outros parceiros do ecossistema de saúde combinam o seu conhecimento para fortalecer os sistemas de saúde, eles podem entregar resultados mais impactantes. Uma plataforma, a Digital Connected Care Coalition (DCCC), tem como objetivo reunir empresas privadas, entidades públicas, organizações não governamentais, empreendedores sociais e organizações financiadas para apoiar parcerias mais eficientes entre setores. A DCCC iniciou em 2019 para acelerar a transformação digital da saúde em países de baixa e média rendas para ajudar a alcançar a cobertura universal de saúde. O que diferencia a DCCC é a sua abordagem orientada à ação para impulsionar o impacto, usando a sua rede e recursos incorporados para facilitar projetos de saúde digital em vários países. Essas colaborações ajudam a abrir um precedente para um envolvimento mais ativo das empresas privadas no fortalecimento dos sistemas de saúde e para laços mais fortes entre os setores público, privado e sem fins lucrativos, para ajudar a resolver os desafios globais de saúde.
A cobertura universal de saúde se trata de garantir que as pessoas em todos os lugares possam acessar os serviços de saúde de qualidade de que precisam, quando e onde precisam, sem sofrer dificuldades financeiras. Mas não há um caminho fácil para alcançá-la. A nossa saúde coletiva depende de garantir que os contratempos temporários não se tornem tendências permanentes. A promessa de saúde para todos precisa fazer parte das estratégias de resposta e recuperação da COVID-19 para que os sistemas de saúde em todo o mundo possam responder de forma igual e sustentável às crescentes demandas e crises futuras. [1] Organização Mundial da Saúde. https://www.who.int/healthinfo/universal_health_coverage/report/uhc_report_2019.pdf?ua=1 [2] Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). https://www.unfpa.org/sites/default/files/resource-pdf/COVID-19_impact_brief_for_UNFPA_24_April_2020_1.pdf; US Global Leadership Coalition. https://www.usglc.org/coronavirus/women-and-girls/ [3] Organização Mundial da Saúde. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/maternal-mortality
A construção de fortes sistemas de saúde globais adotará uma abordagem colaborativa que envolva todas as partes interessadas do ecossistema. Isso significa intensificar os esforços para acelerar a transformação digital como um facilitador de um melhor acesso à saúde e criar soluções de financiamento que possam destravar investimentos públicos e privados. Um amplo engajamento é necessário para garantir que os sistemas de saúde em todo o mundo sejam resilientes e possam atender às necessidades de todos agora e no futuro.