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nov 19, 2021

Três maneiras pelas quais o setor privado pode ajudar a desenvolver a resiliência do sistema de saúde

Por Jan-Willem Scheijgrond
Diretor Global de Assuntos Governamentais e Públicos

Tempo de leitura previsto: 7-9 minutos

Conforme os governos lutam para responder à COVID-19, os eventos climáticos ameaçam cada vez mais a saúde humana. Recordes de ondas de calor, incêndios florestais, inundações, escassez de água e poluição atmosférica impactam substancialmente a saúde das pessoas[1] e dificultam os sistemas globais de saúde já sobrecarregados com a pressão prolongada da pandemia. E, mesmo antes da chegada da COVID, os sistemas de saúde estavam sobrecarregados com o crescente desafio de doenças não transmissíveis, muitas vezes crônicas, cujo tratamento é caro. Conforme as necessidades aumentam, os custos também aumentam. Agora é um bom momento para pensar em como tornar os nossos sistemas de saúde resilientes e (financeiramente) sustentáveis.

 

A COVID-19 causou gastos enormes na saúde, mas os gastos com crises não se igualam à melhoria dos sistemas de saúde nem os tornam mais resistentes. Como os nossos sistemas de saúde sobrecarregados podem continuar atendendo às crescentes demandas e crises futuras? Para os países em meio a crises, a dificuldade em lidar com questões como essa é compreensível. Mas não podemos esperar até o fim da pandemia, pois há novos desafios no horizonte. Agora é a hora de os líderes pararem e descobrirem como garantir que os sistemas de saúde possam continuar respondendo às demandas, às vezes com picos de atendimento, cada vez maiores.

 

Na Assembleia Geral da ONU deste ano, os líderes discutirão a recuperação após a COVID-19. O foco dessas discussões deve ser o desenvolvimento da capacidade do sistema de saúde sustentável, tanto em termos financeiros quanto ambientais. A COVID-19 expôs grandes fraquezas nos sistemas de saúde em todo o mundo e exacerbou lacunas na qualidade e no serviço.[2] Como a Dra. Matshidiso Moeti, diretora regional da Organização Mundial da Saúde na África, observou no ano passado: “A pandemia do coronavírus mostrou mais uma vez a importância de investir em sistemas de saúde, melhorar o acesso igualitário ao atendimento e a prontidão para prevenir e controlar surtos”. [3]
 
Uma forte liderança e um esforço orquestrado para envolver todas as partes interessadas serão fundamentais para impulsionar a tomada de decisões. Seguindo em frente, acredito que o setor privado precisará desempenhar um papel fundamental no esforço coletivo necessário para a construção de sistemas de saúde globais resilientes. Eis três estratégias de desenvolvimento de resiliência que, com o engajamento ativo do setor privado, podem ajudar a fortalecer a capacidade do sistema de saúde e proporcionar impacto duradouro:

  • Criar meios de investimento inteligentes que liberem investimentos públicos e privados na assistência médica onde são mais necessários: atenção primária à saúde.
  • Aumentar a eficiência e a eficácia dos sistemas de saúde por meio da transformação digital.
  • Fazer novas parcerias que alavanquem o conhecimento público e privado.

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Liberação de investimentos na atenção primária

 

Já sabemos que a atenção primária pode fortalecer os sistemas de saúde e, mais importante, melhorar a saúde das pessoas. Segundo o Banco Mundial, a atenção primária pode gerenciar 90% das demandas de saúde. [4] Isso faz com que seja a maneira mais econômica de atender às necessidades de saúde abrangentes próximas às casas das pessoas e comunidades. [5] Além disso, a atenção primária à saúde bem projetada tem o potencial de ajudar a achatar a curva durante uma crise de saúde como a da COVID-19. [6] Há um amplo consenso de que a atenção primária é fundamental para alcançar a cobertura universal de saúde (CUS) e criar um sistema de saúde resiliente. Os países mais próximos de alcançar a CUS foram os mais resilientes durante a crise da COVID.[7] Portanto, para construir sistemas de saúde resilientes e sustentáveis, devemos encontrar formas de liberar investimentos para a atenção primária à saúde.

 

No entanto, o financiamento é o maior gargalo na expansão da atenção primária, especialmente nos países emergentes. Os modelos tradicionais de financiamento, tais como subvenções e empréstimos, são inadequados, enquanto os empréstimos comerciais são muito caros. E apenas uma fração dos investimentos de impacto social vai para o financiamento da atenção primária devido à aversão ao risco dos investidores.

 

A questão é como criar meios de financiamento que liberem investimentos no longo prazo na atenção primária à saúde e garantam um retorno aceitável aos investidores. O desafio é que a atenção primária à saúde é gratuita em grande parte dos países emergentes, então, como os investimentos renderiam retornos quando os pacientes não pagam nada? Os sistemas de pagamento são geralmente administrados por governos que muitas vezes reembolsam a taxas muito baixas. Baixos retornos, altos custos iniciais e dependência do apoio do governo podem fazer com que os investidores vejam a atenção primária como de alto risco.

 

Precisamos encontrar retornos adicionais e confiáveis para reduzir o risco de investidores. Se os investimentos tiverem um retorno de fundos que sustentam o sistema, como pagamentos de reembolso ou prêmios de seguro, “complementados” com receitas alternativas, isso poderia tornar os modelos de negócios da atenção primária mais viáveis e sustentáveis.

 

Uma visão inovadora de financiamento chamada financiamento “de dupla combinação”, que a Philips desenvolveu em conjunto com o Total Impact Capital, poderia ajudar a liberar investimentos tão necessários, fortalecendo tanto o investimento quanto a receita (retornos) dos investimentos. Uma abordagem de dupla combinação envolve o uso da combinação de investimentos para amortecer um investimento e reduzir o risco em estágio inicial, bem como a combinação de receitas para minimizar o risco no longo prazo e aumentar a sustentabilidade do fluxo de caixa. A Philips e o Total Impact Capital fizeram parceria com a Health Finance Coalition para converter essa visão em um meio de investimento de dupla combinação inicial. A ambição é tornar a atenção primária à saúde de qualidade acessível em toda a África, possibilitando investir nela.

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Melhoria dos sistemas de saúde por meio da transformação digital

 

Embora os gastos gerais com saúde tenham aumentado em resposta à COVID-19, os gastos com crises não são sustentáveis. O projeto tradicional de saúde centrado no hospital não é mais preparado para o futuro. A construção de um sistema de saúde resiliente exigirá a reformulação do modelo de prestação de serviços para que as pessoas possam acessar o atendimento médico de forma mais eficiente, acessível e mais próximo de casa. A transformação digital da saúde pode impulsionar uma nova definição desse conceito e aumentar a capacidade geral de resposta e resiliência. Na verdade, um sistema de saúde resiliente será um sistema de saúde digital.

 

A adoção da tecnologia digital por profissionais de saúde, pacientes e aqueles que buscam atendimento acelerou radicalmente durante a pandemia. Os profissionais da saúde, em resposta à COVID-19, rapidamente ampliaram os seus recursos de atendimento virtual. Os aplicativos de triagem digitais ajudaram os provedores a priorizar o atendimento, mantendo os seus funcionários e pacientes seguros. A telessaúde e o monitoramento remoto do paciente transformou uma novidade em uma necessidade, permitindo que médicos e pacientes ficassem conectados em uma época de distanciamento físico.
 
Inovadores de soluções em saúde, como a Philips, podem ajudar a liderar essa transformação. Um bom exemplo é a forma como a Philips apoiou a prática de clínicos gerais holandeses chamada “Midsland” na ilha de Terschelling. Por meio de uma combinação de acesso a tecnologias e apoio remoto de especialistas, esses clínicos gerais podem funcionar como um “hospital remoto”. Se um paciente chegar com o pulso quebrado, o médico pode fazer um raio-X que imediatamente pode ser compartilhado com um traumatologista, radiologista ou médico de emergência remoto. Isso significa que os pacientes não têm que ir até o continente para obter atendimento de emergência ou diagnósticos por imagem.
 
Tecnologias digitais, análise de dados e conceito centrado no paciente oferecem novas oportunidades para prestar atendimento de forma mais eficiente e econômica, como simplificar processos administrativos e superar barreiras geográficas. A transformação digital tem o potencial de reorganizar a prestação de serviços e conectar elementos diferentes do atual sistema de saúde fragmentado.
 
No entanto, como em toda a infraestrutura pública, os governos precisarão assumir um papel de liderança na orquestração do projeto de uma arquitetura digital de saúde preparada para o futuro. É fundamental que os governos assumam essa função de orquestrar agora, já que os hospitais estão investindo na digitalização, para evitar os lock ins tecnológicos e criar silos de dados que são difíceis de desbloquear. Isso será essencial para concretizar a promessa de digitalização no longo prazo.

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Alavancagem do conhecimento público e privado por meio de parcerias

 

A criação de sistemas de saúde resilientes e sustentáveis que sejam digitais por design exigirá reflexão cuidadosa, elaboração de estratégias e, acima de tudo, parcerias. Se os sistemas de saúde são centralizados ou descentralizados, públicos ou privados, os governos devem desempenhar um forte papel de orquestração entre as muitas partes interessadas, para orientar essa transformação.

 

O setor privado pode ser um parceiro essencial durante essa transformação. Mas, para que os governos se sintam à vontade para engajar o setor privado, ajuda obter o apoio de um parceiro confiável, como as Nações Unidas, como um intermediário de confiança para facilitar o diálogo com o setor privado.

 

De forma alternativa, grandes plataformas de parceria, como a Partnership for Health System Sustainability and Resilience (PHSSR) do Fórum Econômico Mundial também podem ajudar a intermediar a colaboração público-privada. A PHSSR fornece uma estrutura para medir a resiliência e a sustentabilidade dos sistemas de saúde no nível nacional e organiza o diálogo entre países para ajudar a projetar sistemas de saúde capazes de prevenir, responder e se recuperar de crises agudas e crônicas, minimizando os seus impactos na saúde, no bem-estar social e econômico.

 

Uma terceira opção é contar com o apoio de uma parceria especializada como a Digital Connected Care Coalition (DCCC), que é uma coalizão diversificada de mais de 30 organizações de membros públicos e privados. A DCCC tem como objetivo acelerar a transformação digital da saúde em países de baixa e média renda, aumentando o engajamento do setor privado.

 

Colocar em prática as parcerias público-privadas certas é essencial, especialmente nas áreas de investimento e digitalização da prestação de serviços, onde os desenvolvimentos tecnológicos são incrivelmente rápidos. Os governos que assumem seu papel como orquestradores da criação de sistemas de saúde resilientes e sustentáveis também devem mostrar liderança para adotar as parcerias em todas as partes da saúde para garantir que as transformações estejam preparadas para o futuro.

Doctors in conversation

Construir a resiliência do sistema de saúde futuro agora

 

De modelos de financiamento inovadores a soluções de tecnologia de saúde, o setor privado pode desempenhar um papel fundamental na jornada de transformação digital da saúde global. Mas ninguém consegue ter sucesso sozinho. As colaborações entre os setores público e privado permitem que os governos aproveitem o investimento do setor privado e a capacidade de abordar problemas em todo o sistema em parceria que nem o público nem o privado poderiam enfrentar sozinhos.
 
Com a probabilidade de ameaças iminentes ainda maiores à saúde humana, esta é a nossa chance de refletir, planejar e agir. Vamos usar a Assembleia Geral da ONU como uma oportunidade, no meio desta crise, para compartilhar aprendizados, cultivar as parcerias inovadoras formadas durante a crise e aproveitar a nossa força e liderança coletivas para construir sistemas de saúde mais resilientes e sustentáveis.

 

[1] Climate Change and Social Inequality | United Nations
[2] Well-designed Primary Health Care Can Help Flatten the Curve during Health Crises like COVID-19 (worldbank.org)
[3] Push for stronger health systems as Africa battles COVID-19 | WHO | Regional Office for Africa
[4] The missing link – the role of primary care in global health (nih.gov)
[5] https://www.who.int/docs/default-source/global-action-plan/accelerator2.pdf; PMAC | Prince Mahidol Award Conference (pmac2020.com)
[6] Well-designed Primary Health Care Can Help Flatten the Curve during Health Crises like COVID-19 (worldbank.org)
[7] Strengthening health systems resilience: key concepts and strategies (who.int)

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Jan-Willem Scheijgrond

Jan-Willem Scheijgrond

Global Head of Government and Public Affairs

Jan-Willem leads the global network of government and public affairs professionals at Philips. He heads up partnerships with international partners such as the United Nations and the World Health Organization.

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