A tecnologia digital e o uso de dados estão transformando todos os aspectos da vida das pessoas e não há sinais de desaceleração dessa tendência tão cedo.
Essa aceleração vem ocorrendo há muito tempo, desde 1947 e a invenção do transistor, que é, essencialmente, o dispositivo de transferência de dados que sustenta toda a tecnologia digital. Passando pelas décadas seguintes e acrescentando o lançamento do primeiro computador pessoal, do primeiro telefone móvel, da internet, da conectividade 5G, temos uma avalanche cada vez maior de dados. De acordo com o Statista 2021, a quantidade total de dados globais deve continuar aumentando rapidamente, com um enorme crescimento de 90 vezes, projetado de 2010 a 2025.
A digitalização também é uma tendência fundamental na área da saúde, presente em quase todas as facetas e abrindo novas oportunidades para o atendimento. Já vimos um grande avanço na adoção da tecnologia digital, especialmente pós-COVID, à medida que consumidores conscientes da saúde e sistemas de saúde sobrecarregados recorrem à tecnologia para ajudá-los a enfrentar os seus desafios.
Também para aqueles 3,5 bilhões de pessoas em todo o mundo que não têm acesso à saúde hoje, a digitalização é o segredo para a melhoria radical em suas vidas, uma vez que as soluções digitais são intrinsecamente muito mais escaláveis e, dessa forma, apoiam a prevenção mais ampla, melhor triagem e menor custo por tratamento.
Hoje, a Philips já é uma empresa digital, com 1 em cada 2 de nossos funcionários de P&D trabalhando no desenvolvimento de softwares e ciência de dados. Ao integrar dados, conseguimos criar soluções de saúde conectadas e inteligentes. Ao aplicar algoritmos de tomada de decisões clínicas e análises preditivas, por exemplo, podemos usar dados para fornecer insights personalizados e acionáveis. Por exemplo, para estimular o comportamento saudável por meio do coaching digital ou alertar equipes médicas sobre possíveis problemas.
Acreditamos que a digitalização pode acelerar a adoção de modelos sustentáveis de saúde tão necessários, incluindo o acesso mais amplo ao atendimento, por exemplo, permitindo que comunidades carentes eliminem a lacuna na prestação de serviços primários.
Dito isso, tornar a saúde acessível a toda a humanidade não pode e não deve sugerir uma duplicação da pegada ecológica global da saúde, que já é horrenda. Se a saúde fosse um país, seria o quinto maior emissor global, representando mais que a aviação ou a indústria naval.
A digitalização pode ajudar a reduzir a pegada ecológica da saúde, permitindo um uso mais eficiente de recursos escassos, tanto de energia quanto de materiais. Por exemplo, apoiando o atendimento virtual (ou “telessaúde”) e a mudança de ambientes clínicos intensivos em recursos para ambientes de menor custo em rede e domiciliares. Além disso, permitindo a “desmaterialização” e modelos de serviços circulares, como modelos baseados em uso e resultados.
Mas o que exatamente queremos dizer com “desmaterialização”? Ao pensar na forma de atendimento às necessidades de um cliente, nós da Philips sempre nos perguntamos, logo no início do processo de concepção: “Como podemos entregar valor aos nossos clientes, evitando ou minimizando o uso de materiais?” Se conseguirmos criar uma solução virtual, ela reduz o impacto ambiental. As ferramentas digitais apoiam a desmaterialização e, como tal, abordam a própria essência da economia circular, entregando o máximo de valor com recursos mínimos.
Ao mesmo tempo, vemos que a presença da infraestrutura das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação), necessária para entregar soluções digitais, está aumentando. A eletricidade é necessária para executar o hardware e o software que transporta os dados por todo o mundo. Estima-se que mais de 800 TWh sejam consumidos anualmente, o que equivale, aproximadamente, ao consumo total de eletricidade da Bélgica, Holanda e Alemanha. Até 2030, 8% da eletricidade será consumida por data centers. E a previsão é que até 2040, 14% das emissões de gases de efeito estufa sejam atribuídos às TICs. Atualmente, esse número é de 2%.
Pesquisas [1] indicam que a economia de recursos desbloqueada pela tecnologia da informação e comunicação digital supera o aumento da pegada ecológica causado pela implantação dessa tecnologia. Mas, para maximizar essas economias, também devemos nos concentrar na construção de infraestrutura digital sustentável, incluindo soluções em nuvem sem carbono e design totalmente circular para hardware.
Na Philips, vemos a digitalização do atendimento como uma oportunidade para acelerar o desenvolvimento sustentável. De acordo com um artigo publicado por J.D Sachs e outros, a digitalização é uma das seis principais transformações necessárias para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. A Philips estabeleceu metas ambiciosas de sustentabilidade ligadas aos ODSs da ONU. Elas incluem: garantir o uso sustentável de materiais e conduzir a transição para uma economia circular; e garantir o uso sustentável da energia, reduzir as emissões e operar sem emissões de carbono.
Como uma empresa de tecnologia de saúde orientada por propósitos, estamos muito conscientes de nossa responsabilidade com a sociedade e da necessidade de continuar incorporando a sustentabilidade cada vez mais na maneira como fazemos negócios, não apenas em nossas próprias operações, mas em toda a cadeia de valor, juntamente com nossos clientes e fornecedores.
Há mais de uma década, começamos a implementar os requisitos de produtos para o desenvolvimento de software e, ao longo dos anos, percebemos que precisamos abordar esse tema de uma perspectiva mais ampla.
A nossa estratégia visa a capturar o potencial da digitalização para nos ajudar a realizar as nossas ambições de sustentabilidade. Essa estratégia é construída em torno de quatro pilares:
Para dar um exemplo simplificado de outro setor, o Google Maps executado em um smartphone ilustra essa estratégia em ação: re 1. otimização de rotas em tempo real significa que os motoristas consomem menos energia para chegar ao seu destino; re 2. a forma como o aplicativo é programado reduz o consumo de recursos, por exemplo, o uso de processador, memória, rede; re 3. programas de fabricantes de telefones promovem o fim de uso responsável; re 4. o usuário pode optar pelo modo de economia de energia ou selecionar o brilho/tempo limite da tela.
Se bem projetada, a digitalização da saúde pode melhorar radicalmente o acesso e o atendimento, além de possibilitar um uso muito mais eficiente dos recursos naturais.
Robert Metzke
Diretor Global de Sustentabilidade, Philips
Agora, vamos nos aprofundar um pouco mais e explorar como, na Philips, estamos implantando esses pilares estratégicos para oferecer benefícios de saúde e sustentabilidade para os nossos clientes e consumidores.
Esta é a área onde a verdadeira inovação pode acontecer, com benefícios ambientais significativos. Para dar apenas um exemplo: A eCare Coordinator é uma plataforma de software de telessaúde da Philips que ajuda a reduzir a emissão de carbono e o desperdício. A eCareCoordinator fornece ferramentas para acompanhar remotamente a saúde dos pacientes em casa e colaborar com os médicos para ajudar a detectar problemas antes que levem a internações ou reinternações.
Hospedada em nossa plataforma digital HealthSuite baseada em nuvem, ela evita deslocamentos desnecessários, pois é solicitado aos pacientes a realização de tarefas e avaliações de saúde pré-atribuídas usando o aplicativo do paciente eCareCompanion em casa. Além disso, evita internações desnecessárias, em uma instalação intensiva de recursos, uma vez que os sinais vitais dos pacientes são monitorados remotamente e os médicos identificam os que mais precisam de intervenção imediata.
Um estudo realizado pela Accenture [1] indicou que 40% das consultas médicas poderão ser realizadas remotamente até 2030. Em última análise, interações remotas como essas poderiam potencialmente reduzir a necessidade de instalações físicas de assistência médica, diminuindo ainda mais o consumo de materiais e energia, bem como deslocamentos.
Vemos um enorme potencial para reduzir o impacto ambiental, capacitando o comportamento sustentável do usuário. A questão é: até que ponto, na era digital, o nosso comportamento afeta o meio ambiente? Aparentemente, a resposta é... Muito! Cada pesquisa realizada, cada clique em um site, cada transmissão de música ou vídeo e cada e-mail que enviamos, todos eles se somam à incrível demanda por eletricidade, o que resulta em maiores emissões de CO2.
Aproximadamente 50% de todos os computadores em escritórios ficam ligados durante a noite e nos fins de semana. Simplesmente desligar computadores à noite pode reduzir o consumo anual de energia em mais de 50%. Assim, cada um de nós pode realizar pequenas ações em nosso trabalho diário que somam para reduzir significativamente o nosso impacto ambiental digital. De grão em grão... E as empresas e outras organizações precisam pensar em permitir escolhas mais sustentáveis por padrão e informar os usuários sobre o impacto ambiental de suas escolhas e comportamentos.
O design sustentável de software pode ajudar a reduzir o consumo de hardware físico de TI e o consumo de energia dos recursos das TICs. Então, como podemos projetar softwares de tal forma que minimizem a nossa pegada ecológica decorrente de materiais e energia?
Ao longo das décadas, o aumento da velocidade levou a uma imensa computação paralela. Também no domínio da IA, a noção de “deixar o algoritmo executar” exige muito poder de computação, o que tem um impacto importante. Até ouvi alguns desenvolvedores de software perguntar: “Para criar algoritmos, que são realmente eficientes em computação, precisamos voltar ao conhecimento e capacidade que tínhamos quando tivemos que encontrar uma maneira de contornar as limitações da programação de 32 bits?”
O Philips PerformanceBridge é um exemplo de software que permite maior utilização de hardware, bem como um atendimento melhor e mais eficiente. Essa plataforma de dados em tempo real, baseada na internet, agrega dados de várias fontes e se integra com o visualizador de imagens do hospital, para que a equipe obtenha os dados de que precisam com o contexto. Os dados operacionais são claramente apresentados, para que a equipe possa identificar imediatamente pontos fora da curva e possíveis oportunidades de melhoria, também quando se trata de uso de material/energia.
Acreditamos que a digitalização pode ampliar o acesso ao atendimento para centenas de milhões de pessoas, impulsionando uma mudança para modelos de saúde mais sustentáveis e resilientes em todo o mundo.
Robert Metzke
Diretor Global de Sustentabilidade, Philips
A computação em nuvem, sem dúvida, oferece enormes benefícios. Quando as empresas migram para a nuvem, a sua utilização de servidor pode chegar a aproximadamente 65%. E, embora a PUE (eficácia no uso da energia) do data center médio seja de 1,7, a média do setor em nuvem é de 1,2, o que significa que mais energia é usada por equipamentos de computação. Em suma: menos servidores necessários × servidores mais eficientes = consumo de energia menor!
No entanto, deixe-me também abordar um equívoco comum, ou seja, que a nuvem não assume uma forma concreta, que é de alguma forma “livre”, literalmente “nas nuvens”. Isso é incorreto: naturalmente, sempre tem hardware em algum lugar executando o software em nuvem. Veja os centros de servidores de TI que vemos às margens de nossas rodovias. Isso reforça mais uma vez a necessidade de tomar decisões de negócios com uma perspectiva integral sobre o impacto social, ambiental e financeiro (“tomada de decisão integrada, preços reais”).
A pesquisa da Precedence Research aponta um crescimento anual de 17,8% da computação em nuvem da saúde até 2027. Ao inovar em tecnologias digitais de forma sustentável, podemos continuar ajudando nossos clientes a fazer a transição para a nuvem para reduzir os seus custos operacionais e seu impacto ambiental.
Por exemplo, conseguimos economizar em infraestrutura e energia de TI movendo a nossa solução Philips Electronic Medical Records and Care Management para a nuvem. Isso incluiu uma redução de 15 toneladas nas emissões de CO2 de uma instalação remota e não no local. E com o sistema na nuvem, não há necessidade de manter o data center na instituição.
A digitalização oferece um escopo tremendo para melhorar o atendimento, beneficiando pacientes, médicos e administradores. Também tem um potencial significativo para reduzir o impacto ambiental da saúde. No entanto, só podemos aproveitar esse potencial projetando os nossos sistemas digitais com o propósito de promover o desenvolvimento sustentável e trabalhando em conjunto com outros em nosso ecossistema, como profissionais da saúde, médicos, parceiros de conhecimento e fornecedores.
Em todo o setor, precisamos nos unir a especialistas, por exemplo, do mundo da arquitetura de software, para garantir as decisões e trocas certas para um futuro sustentável. Duas perguntas importantes vêm à mente para esses especialistas:
Estamos interessados em desenvolver as nossas próprias experiências e aprender com as ideias e melhores práticas dos outros. Com esse espírito, convido você a participar da discussão sobre a melhor forma de alavancar a digitalização para melhorar a saúde e, ao mesmo tempo, acelerar o uso sustentável de energia e materiais.
1. Accenture #SMARTer2030. (2015). ICT Solutions for 21st Century Challenges.
Philips Global Head of Sustainability Mr. Metzke leads Philips’ activities in Sustainability where he drives the company’s strategy towards innovative, sustainable business models and embedding sustainable and circular ways of working across Philips. In particular, Robert and his team are leading all activities with regards to Philips' environmental responsibility, with a focus on climate action, circular economy and expanding access to healthcare in underserved communities, as part of Philips overall purpose to improve people's health and well-being. Before joining Philips, Mr. Metzke worked at McKinsey & Company as a consultant where he gained 5 years of experience in strategy and innovation in the high-tech, healthcare and public sectors. Mr. Metzke has a background in journalism, science publishing (Science/ AAAS) and academic research (physics). He is married, has three children and lives in the Netherlands.
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