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Por que a colaboração é fundamental para solucionar a escassez de profissionais na área da saúde – Perguntas e respostas com o Prof. Jaroslaw J. Fedorowski

out 03, 2023 - Tiempo de lectura: 4-6 minutos

A escassez de profissionais qualificados é uma das maiores preocupações dos líderes de saúde em todo o mundo. Em uma série de artigos, convidamos líderes de saúde de diferentes partes do mundo a contar como eles estão inovando na prestação de cuidados para atrair, capacitar e reter profissionais, bem como fornecer maneiras mais eficientes de atendimento de alta qualidade aos pacientes. Nesta edição, conversamos com Jaroslaw J. Fedorowski, professor universitário, médico, PhD, MBA, FACP, FESC, presidente e CEO da Federação Polonesa de Hospitais – uma organização guarda-chuva que representa mais de 500 hospitais em todo o país, e que é membro efetivo da Federação Europeia de Hospitais (HOPE) e da Federação Internacional de Hospitais (IHF).

A nurse having a conversation with a physician

P.: prof. Fedorowski, para começar, poderia descrever alguns dos desafios com pessoal que os hospitais na Polônia vêm enfrentando?

 

R.: existem vários, e grande parte está relacionada com uma distribuição desigual de recursos. Do ponto de vista geográfico, os profissionais de saúde na Polônia são atraídos por trabalhos em hospitais de grandes cidades. Os hospitais de cidades pequenas têm dificuldades para encontrar profissionais devidamente qualificados, sobretudo enfermeiros. A Polônia tem um número ligeiramente menor de médicos em relação à média da UE, mas esse número é bem abaixo da média quando o assunto são enfermeiros.

 

Além disso, os hospitais estão competindo com outras organizações de saúde por profissionais, porque nosso sistema de saúde ainda é bastante fragmentado. Estamos presenciando um êxodo de profissionais de hospitais para unidades de cuidados ambulatoriais, onde eles geralmente trabalham menos horas e em condições menos estressantes. Os líderes de hospitais também precisam levar em consideração que os profissionais de saúde mais jovens estão ingressando na área com expectativas de conciliar a vida pessoal com a profissional diferentes das gerações mais antigas.

 

Apesar disso, estou otimista que podemos enfrentar esses desafios com colaboração. Os administradores dos hospitais na Polônia tendem a ser muito empreendedores e criativos, e estamos presenciando muitos avanços animadores tanto na inovação tecnológica quanto na gestão de recursos humanos.

"O envelhecimento dos profissionais de saúde tende a ser um desafio. Mas gosto de encará-lo como uma oportunidade."

A portrait of Prof. Jaroslaw J. Fedorowski, President and CEO of the Polish Hospital Federation

Jaroslaw J. Fedorowski, professor universitário, médico, PhD, MBA, FACP, FESC
presidente e CEO da Federação Polonesa de Hospitais

P.: vamos analisar alguns desses desafios e avanços. O senhor mencionou especificamente a escassez de enfermeiros. O que os hospitais na Polônia estão fazendo para atrair e reter esses profissionais?

 

R.: por muitos anos, não houve um grande estímulo à profissão de enfermagem na Polônia, e as condições de trabalho também não eram excelentes. Essas condições vêm melhorando agora. Além de melhor remunerados, os enfermeiros também estão se qualificando e especializando mais, e começaram a aproveitar oportunidades de desenvolvimento profissional que não existiam há alguns anos.

 

A posição deles na área da saúde também mudou para melhor. Antes, os enfermeiros basicamente faziam o que o médico mandava. Hoje, eles estão se tornando verdadeiros parceiros em uma equipe de cuidados. Acho que envolver a equipe e fazer com que eles se sintam valorizados é uma parte essencial da gestão moderna de recursos humanos. Outro aspecto disso é buscar maneiras de ajudar as pessoas a se concentrarem no que fazem melhor e mais gostam. Por exemplo, temos uma profissão relativamente nova na Polônia que é a de cuidador, que auxilia os pacientes nas atividades diárias. Assim, os enfermeiros podem se concentrar nas tarefas de enfermagem.

 

A tecnologia assistiva também pode desempenhar um papel importantíssimo ao melhorar as condições de trabalho dos enfermeiros, que não serão tão fisicamente exigidos. Nem sempre precisa ser a tecnologia mais sofisticada. Algo tão simples como equipamentos que ajudam os enfermeiros a levantar os pacientes pode fazer uma grande diferença ao tornar o trabalho deles mais eficiente, ergonômico e agradável. Esse tipo de tecnologia assistiva também permite que enfermeiros com mais idade continuem trabalhando por mais tempo. Falamos frequentemente sobre o desafio do envelhecimento da força de trabalho na área da saúde, mas gosto de pensar nisso como uma oportunidade. Existe uma economia médica prateada esperando para ser explorada.


P: esta é uma observação interessante. O que mais os líderes de hospitais podem fazer para auxiliar e reter profissionais mais velhos em suas equipes?

 

R.: para começar, acho importante mudarmos nossa perspectiva sobre o que significa ter uma força de trabalho envelhecida. É evidente que é a idade média dos médicos e enfermeiros está aumentando. Mas em vez de lamentarmos esse fato, devemos aceitá-lo. Se o nosso objetivo como sociedade é viver por mais tempo e de uma forma mais produtiva – com cuidados de saúde melhores e mais preventivos – os profissionais da área médica também viverão mais tempo. Por isso, a pergunta que realmente devemos fazer é: como podemos ajudar esses profissionais experientes e mantê-los na área de saúde?

 

Eu já mencionei um tipo de tecnologia que pode auxiliar enfermeiros, mas também existem várias outras formas de tecnologia assistiva. Por exemplo, robôs poderiam auxiliá-los na dispensação e distribuição de medicamentos. Tudo isso permitiria que enfermeiros com mais idade, que talvez não tenham tanta força física, fossem tão eficientes quanto colegas mais jovens. Também pode gerar oportunidades para membros experientes da equipe fornecerem treinamento e capacitação, ou trabalharem como consultores, longe do paciente.


P: Com relação aos profissionais de saúde, como os hospitais podem continuar sendo empregadores atrativos?

 

R.: assim como estamos aprendendo a manter os funcionários mais antigos engajados, também devemos dedicar tempo ouvindo os profissionais de saúde mais jovens e entender o que eles valorizam. Sabemos que eles valorizam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Por isso, devemos organizar melhor o atendimento hospitalar em torno disso. Por exemplo, alguns médicos podem gostar de trabalhar em plantões de sete dias e depois acumular dias de folga, enquanto outros médicos com filhos podem preferir um horário regular durante a semana. Se conseguirmos oferecer esse tipo de flexibilidade, trabalhar em um hospital será mais atraente para eles.

 

Sustentabilidade ambiental é algo que sobretudo as gerações mais jovens valorizam. Eles podem ficar mais felizes e motivados em trabalhar em um ambiente hospitalar ecológico e ambientalmente correto. [Nota do editor: essa informação está alinhada com as conclusões do relatório Philips Future Health Index 2023, que demonstrou que mais de um terço (35%) dos profissionais de saúde mais jovens buscam empregadores que tenham políticas de sustentabilidade sólidas.]

A group of healthcare professionals having a discussion

P.: você mencionou o papel da tecnologia em auxiliar os profissionais de saúde. Na sua opinião, quais outras oportunidades a tecnologia pode oferecer para tornar a área da saúde mais atraente para trabalhar?

 

R.: temos visto várias iniciativas bem-sucedidas na Polônia para digitalizar os serviços de saúde e facilitar a troca de informações médicas. Na verdade, em nosso país, a maioria das prescrições já são eletrônicas, em parte devido à pandemia da COVID-19. Entretanto, os encaminhamentos eletrônicos têm estimulado um movimento em direção a uma melhor coordenação de cuidados.

 

Também temos visto desenvolvimentos espetaculares na cirurgia robótica na Polônia. Os robôs não estão substituindo os cirurgiões, mas aprimorando suas habilidades – por exemplo, reduzindo imprecisões das mãos humanas. Por essa mesma razão, sou um grande entusiasta da tecnologia de reconhecimento de voz. Mais uma vez, ela não substituirá o papel do médico, mas complementará suas habilidades e tornará o nosso trabalho mais atraente. Falando como médico, meu objetivo é passar o menor tempo possível inserindo dados no computador e dedicar o máximo tempo possível examinando e realizando procedimentos, e conversando com o paciente e sua família. Eu adoraria que a tecnologia de reconhecimento de voz transcrevesse automaticamente as conversas com os pacientes e captasse todas as informações relevantes no prontuário eletrônico, para que eu não precise fazer isso manualmente. Isso também pode fazer uma grande diferença para os profissionais seniores de um hospital, pois a inserção manual de dados no teclado pode ser especialmente difícil para eles.

 

P: o senhor também entende que a tecnologia tem um papel em conectar médicos em hospitais urbanos com hospitais de cidades pequenas, que podem sofrer com escassez de profissionais especializados?

 

R.: com certeza. Podemos nos inspirar nos Estados Unidos, onde temos visto a ascensão de hospitais digitais e gerenciamento de cuidados remotos. Em vez de contratar um hospital inteiro com médicos especialistas, podemos ter clíncos gerais ou médicos hospitalistas que cuidam do atendimento ao paciente e consultam médicos especializados em outros locais quando necessário. Algumas vezes, uma consulta virtual pode ser suficiente. Em outras, o médico especializado precisa se deslocar até o local para realizar um procedimento. Algum dia, poderemos ter médicos hospitalistas ou procedimentalistas.

 

Da mesma forma, vejo o desenvolvimento de mais aplicações que ajudarão os médicos a colaborar de forma virtual. Por exemplo, na oncologia, temos reuniões de comitê multidisciplinar de tumores que são obrigatórias para a avaliação de pacientes com um novo diagnóstico de câncer. Graças à tecnologia que temos hoje, já podemos nos conectar e analisar um caso sem que todos precisem estar na mesma sala. Por conta da pandemia, os pacientes também estão se familiarizando com a telemedicina – o que é importante, porque também precisamos que o paciente aceite essas novas tecnologias.


P: você mencionou a importância de uma colaboração em todo o ecossistema do sistema de saúde. Como o senhor define uma colaboração de sucesso e como a Federação Polonesa de Hospitais está ajudando?

 

R.: como mencionei, o principal desafio é uma coordenação dos cuidados capaz de criar um valor ideal para os pacientes ao longo da jornada de tratamento. Esse deve ser nosso objetivo final, e é um grande foco tanto para a Federação Polonesa de Hospitais quanto para os nossos parceiros. Estamos apoiando o desenvolvimento de cuidados coordenados para aprimorar a colaboração em todo o ciclo de atendimento ao paciente. Por exemplo, pacientes que sofrem um ataque cardíaco hoje recebem tratamento de diferentes provedores que trabalham juntos em um sistema de cuidados coordenados. Recentemente, também criamos uma rede nacional de oncologia na Polônia. Nosso país passou a intensificar programas de cuidados coordenados na atenção primária, em que os pacientes têm direito a um coordenador de cuidados que os acompanha durante toda a jornada de tratamento. Por isso, eu acho que todos esses passos estão indo na direção certa.

 

No final das contas, somos grandes defensores do atendimento baseado em valor. Não acho que exista alguém capaz de introduzir isso em grande escala, mas acredito que não há realmente outro modelo melhor. Sugerimos que a Polônia avance rumo ao atendimento baseado em valor, organizando consórcios de cuidados coordenados que concorreriam com base em resultados. Resultados ideais só podem ser atingidos se os provedores de saúde cobrirem todo o ciclo de atendimento ao paciente. Isso também nos ajudaria a empregar a quantidade adequada de profissionais e recursos em cada segmento de saúde. Assim, em vez de diferentes provedores competindo entre si com base nos preços dos serviços, teríamos consórcios de cuidados coordenados competindo pelo valor que oferecem aos pacientes e funcionários.

 

Uma colaboração mais próxima dentro do sistema de saúde será realmente essencial. É por isso que, na Federação Polonesa de Hospitais, trabalhamos com diversos stakeholders, incluindo tomadores de decisão em hospitais, órgãos estatais, sindicatos, fabricantes de equipamentos médicos, startups e parceiros educacionais. Eu acredito que a cooperação internacional também é muito importante, por isso valorizamos o diálogo constante e a troca de conhecimentos por meio da Federação Europeia de Hospitais e da Federação Internacional de Hospitais. Ao criarmos oportunidades de networking e capacitação, todos podemos aprender uns com os outros e encontrar novas soluções para reduzir a escassez de profissionais.

 

Essa conversa foi editada para melhorar a fluidez e clareza.

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