Centro de Notícias | Brasil

O hospital do futuro: tendências e tecnologias emergentes – Perguntas e respostas com o Dr. Alan Pitt

ago 01, 2023 - Tempo de leitura: 4-6 minutos 

Em uma série de artigos, exploramos o futuro da prestação de serviços de saúde, incluindo o papel evolutivo do atendimento hospitalar. Para esta edição, conversamos com o Dr. Alan Pitt, neurorradiologista do Barrow Neurological Institute e CEO da Vitalchat, para discutir as tendências e tecnologias emergentes em radiologia – desde a mudança das expectativas da força de trabalho até a expansão da IA generativa – e o que esses desenvolvimentos significam para os hospitais e a saúde em geral.

An imaging technologist providing remote support to a colleague

P.: O Dr. Pitt, a escassez de pessoal é, atualmente, a principal preocupação dos líderes de saúde em todo o mundo e só deve crescer. Como você vê isso se manifestar na radiologia e como os hospitais podem continuar atraindo e retendo talentos?

 

R.: Primeiro, acho que temos de reconhecer que o trabalhador hospitalar em um mundo pós-pandêmico não é o trabalhador do mundo pré-pandemia. Embora a pandemia tenha colocado extrema pressão sobre o pessoal da linha de frente, também fez muitos de nós refletirmos sobre a maneira como agimos e sobre o papel que o trabalho desempenha em nossas vidas. Especialmente as gerações mais jovens de profissionais procuram mais flexibilidade e um melhor equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada. Estamos observando um claro aumento de trabalhadores em transição na radiologia – e no setor de saúde em geral. Aqueles que passam um tempo preenchendo uma lacuna, mas, logo, migram para outra área ou condição de trabalho. Estes ainda estão comprometidos com o paciente, mas podem não estar mais tão comprometidos com um sistema hospitalar. E, se eu olhar para os bolsistas de radiologia que estou treinando hoje, muitos deles estão procurando empregos remotos, porque querem poder trabalhar de qualquer lugar.

 

Na verdade, eu mesmo fui um dos primeiros defensores da telerradiologia e da telemedicina, no início dos anos 2000, porque pude ver a eficiência que trariam para nossa prática. O que eu não apreciava na época é que também pode haver um lado sombrio no trabalho remoto. E isso é algo que estamos começando a ver na saúde hoje. Quando radiologistas se tornam intérpretes sem rosto na nuvem, pode haver uma erosão sutil da cultura organizacional e do profissionalismo, além de uma falta de vínculo com a comunidade. Como construir presença em um departamento hospitalar se o profissional nunca está lá?

 

Então, acho que a saúde terá de encontrar um meio termo, como qualquer outro setor que está se adaptando ao trabalho híbrido. Para atrair e reter boas pessoas, precisamos oferecer a elas opções de como querem se envolver com o trabalho, seja no hospital ou remotamente. Sempre acreditei que o futuro da radiologia é "a qualquer hora, em qualquer lugar". Essa tendência não vai morrer. Ao mesmo tempo, precisamos pensar em maneiras de reunir os profissionais remotos novamente intermitentemente, por exemplo, por meio de reuniões presenciais dedicadas, em que construímos profissionalismo fora do nosso fluxo de trabalho diário. 

“O hospital do futuro deve reconectar os profissionais de saúde de volta ao seu propósito: cuidar dos pacientes"

alan pitt

Alan Pitt, MD
Professor de Neurorradiologia do Instituto Neurológico Barrow e CEO da Vitalchat

P.: Você é um defensor ferrenho de reconectar os profissionais de saúde de volta ao seu propósito. Poderia explicar o que quer dizer com isso?

 

R.: Claro. Acredito que, se você espera que as pessoas se sintam realmente engajadas em seu sistema hospitalar, elas precisam ter um forte senso de propósito. Mas o que temos visto na saúde, nas últimas décadas, é uma constante onda de mais administração e regulamentação, o que, na verdade, está afastando os profissionais de saúde de seu propósito. Continuamos adicionando "mais uma coisa", sem perguntar como isso se encaixa nos fluxos de trabalho e experiência gerais. Como resultado, agora, dedicamos mais tempo para documentar do que para cuidar de pacientes. Ninguém gosta de ser um mero escrevente dos prontuários médicos.

 

É por isso que acho que é muito importante que reconectemos os profissionais de saúde de volta a seu propósito. Isso significa pensar nas pessoas antes de na tecnologia – de fato, perguntar o que significa para um profissional de saúde interagir com uma determinada tecnologia e como a tecnologia pode auxiliar seu fluxo de trabalho.

 

Isso também significa que precisamos encontrar melhores maneiras de monitorar e enfatizar o valor que os profissionais de saúde oferecem ao paciente. Neste momento, os serviços de saúde podem, muitas vezes, parecer bastante transacionais. Todos nós fazemos nossa pequena parte ao cuidar de um paciente, mas é muito raro ouvirmos como nossos esforços acabaram beneficiando o paciente. Como radiologistas, também hesitamos em estabelecer relacionamentos com os pacientes, porque nosso foco principal sempre foi o relacionamento com o médico que o encaminhou.

 

Tecnologias simples, como mensagens de texto automatizadas, podem ajudar a coletar feedback dos pacientes ao longo do tempo. Essa tomografia fez uma diferença positiva na vida de um paciente? Ele, agora, está sentindo menos dor depois de receber seu diagnóstico e tratamento? Precisamos acompanhar o paciente para ver o impacto de um estudo de imagem na jornada do paciente rumo ao bem-estar. É isso que me dá propósito como médico e é isso que me ajuda a entender se meu trabalho agregou valor a um paciente ou não. Como temos cada vez menos dinheiro para gastar na saúde, espero que a geração de imagens baseada em valor também se torne uma necessidade econômica. Os sistemas de saúde não poderão mais pagar por imagens redundantes ou desnecessárias.

 

P.: Você já abordou o papel da telerradiologia e da telemedicina. Como podem ajudar a mitigar a escassez de pessoal e como você as vê moldando o futuro do serviço hospitalar de forma mais ampla?

 

R.: Como está cada vez mais difícil encontrar profissionais experientes no setor de saúde, precisamos descobrir como podemos levar o conhecimento aos profissionais menos experientes para ajudá-los a tomar decisões. A virtualização é um facilitador para isso, pois cria novas oportunidades de orientação e educação em todos os níveis de experiência em um sistema hospitalar. Por exemplo, você pode ter um neurorradiologista experiente em Phoenix dando suporte a um radiologista geral em um local satélite menor. Ou um tecnólogo experiente orientando remotamente a aquisição de imagens por um colega menos experiente. Tudo em tempo real.

 

De modo mais geral, gosto de pensar nisso como uma "pirâmide da saúde", em que há profissionais de saúde com níveis variados de treinamento e educação. A pessoa com mais experiência em um determinado campo só deve ser chamada quando necessário. E essa pessoa deve capacitar todos os que têm menos experiência. Isso pode parecer óbvio, pois é assim que a maioria dos setores funciona, mas, no setor de saúde, tendemos a não nos organizar dessa forma. Em uma grande empresa, você nunca pediria a um CEO que resolvesse um problema do início ao fim: você pediria a outras pessoas que resumissem as informações relevantes para ele e, em seguida, pediria ao CEO uma opinião ou decisão. No entanto, na área da saúde, ainda é bastante comum que um especialista faça a admissão completa de um paciente, mesmo quando colegas menos experientes podem fazer parte desse trabalho.

 

Então, acho que a mensagem principal aqui é que precisamos começar a usar recursos escassos de forma mais criteriosa na saúde. Trata-se, na verdade, de capacitar cada profissional de saúde a operar no topo de sua habilitação, disponibilizando a experiência certa, para a pessoa certa, no momento certo – e fazer isso em escala, usando novas tecnologias.

A physician getting a 360-degree view of a patient

P.: Falando em como a tecnologia pode capacitar os profissionais de saúde, como você vê o impacto da IA generativa na radiologia e na saúde em geral?

 

R.: Acho que seu impacto será enorme; haverá um mundo pré e pós-IA generativa na saúde. Uma das maiores oportunidades que vejo é reunir várias fontes de informação do paciente de uma forma significativa, para pintar um quadro mais completo desse paciente, que é algo com que sempre lutamos na radiologia por conta da fragmentação da saúde.

 

Hoje, tendemos a olhar para o diagnóstico por imagem em um silo. A grande maioria dos sistemas de imagem fica em seu próprio domínio, desconectada do prontuário, dos resultados laboratoriais e de outros dados do paciente. Como radiologista, posso lhe dizer o que vejo em uma ressonância magnética ou tomografia computadorizada, mas quanto mais eu souber sobre o paciente, melhor entenderei o que estou vendo e mais valor poderei oferecer. É nesse ponto que a IA generativa pode me ajudar, reunindo diferentes fontes de informação e gerando uma lista de possíveis diagnósticos e probabilidades correspondentes para um determinado estudo de imagem.

 

Isso abrirá caminho para o que eu gosto de chamar de "inteligência ambiental", em que me sento na minha estação de trabalho de radiologia e tenho acesso a todas as informações de que preciso na ponta dos dedos. Não só isso, mas um assistente virtual também me fornecerá insights e recomendações relevantes. Pode me dizer: "Dr. Pitt, dei uma olhada preliminar nas imagens desse paciente, também analisei informações do prontuário, resultados de laboratório e outras fontes, e encontrei um paciente semelhante que também tem 73 anos, com diabetes e doença cardíaca. Com base em minha análise, espero ver tais e tais comorbidades. E isso é algo a que sugiro que você preste muita atenção".

 

Portanto, veremos sistemas de suporte cada vez mais inteligentes, mas o radiologista permanecerá no controle e será o responsável, assim como o piloto de um avião.

 

P.: Você espera ver o papel dos médicos evoluir como resultado disso?

 

R.: Primeiro, acho importante perceber que a automação quase nunca substitui as pessoas. Muda as pessoas. Todo mundo terá de descobrir: qual é minha nova função? Como médicos, éramos oráculos do conhecimento. Mas, na era da IA e do acesso instantâneo ao conhecimento, meu trabalho não é mais apenas deter e recordar grande quantidade de conhecimento médico. É usar esse conhecimento de forma que impacte positivamente meus pacientes.

 

Isso significa que precisamos ser capazes de entender verdadeiramente nossos pacientes, nos comunicar de forma eficaz com outros profissionais de saúde e trabalhar juntos como uma equipe para oferecer o melhor atendimento possível. Nossa capacidade de ler a linguagem corporal de um paciente, suas preocupações e o subtexto do que ele está dizendo: essas habilidades humanas se tornarão ainda mais importantes.

 

As faculdades de medicina devem adaptar seus programas de treinamento de acordo com isso, para que os futuros profissionais de saúde estejam equipados para serem os melhores parceiros possíveis na cura e no tratamento de doenças. Tradicionalmente, premiamos os médicos pelo QI e não pela inteligência emocional (QE). Mas, em um futuro habilitado para IA, o QE se tornará mais importante do que o QI. Ao repensar a abordagem tradicional da medicina e da educação médica com as tecnologias mais recentes, podemos criar um sistema de saúde que realmente coloque os pacientes em primeiro lugar.

 

Esta conversa foi editada para facilitar o fluxo e a clareza.

You are about to visit a Philips global content page

Continue

Para visualizar melhor o nosso site, utilize a versão mais recente do Microsoft Edge, do Google Chrome ou do Firefox.